Olá a todos! Hoje vamos analisar os overbet shoves no flop em situações de ICM. Trata-se de um conceito relativamente novo, que ainda não se popularizou nos jogos modernos, inclusive nos de high stakes. No entanto, graças ao solver do GTO Wizard, dentro de um ou dois anos essas linhas começarão a ser utilizadas em larga escala.
Qual é a ideia, afinal? Se você trabalha com frequência com softwares, provavelmente já notou que o solver, em SPR 2–3 e até mais alto, gosta de encerrar as mãos já no flop. Dessa forma, ele evita decisões complexas na linha de check-raise e cartas assustadoras no turn. Vamos tentar entender em que situações isso acontece com mais frequência e por quê, além de desenvolver heurísticas simples que você possa memorizar e aplicar durante o jogo. Não vou me aprofundar em todos os detalhes teóricos nem escrever um guia completo sobre overbets no flop — não temos tempo para isso — mas vou mostrar alguns exemplos com essa técnica em mesas finais. Se o tema te interessar, será fácil seguir pesquisando por conta própria.
Vamos analisar:
- shove em posição no botão contra o big blind,
- shove fora de posição no middle position contra cutoff,
- shoves em posição e fora dela em potes 3-bet entre cutoff e botão,
- donk shoves do BB após call de raise do botão – tanto com stack grande quanto menor.
Nosso primeiro caso: botão contra BB no flop , com SPR 3.4. Vamos olhar logo o risk premium: para o BB, é de 6,2%; para o botão, 12,2%. Para o BB, é um valor relativamente baixo; para o botão, bastante alto, já que o stack do BB é muito maior e há muitos short stacks na mesa.
O solver propõe dois sizings para o jogador no botão: aposta do tamanho do pote e all-in.
O sizing preferido é o all-in. A ideia é encerrar a mão o mais rápido possível.
Como esse range é construído? Comecemos pelo valor. Acho que aqui é bem intuitivo: top pairs fortes, suited e offsuit, e os overpairs mais fracos , , . E os blefes? Isso já não são tão intuitivos. Seria de se esperar que mãos como duas pontas, como , fossem para o all-in, mas na verdade essa mão dá check 100% das vezes. Flush draw com também dá check. Então com quais blefes o solver propõe o shove?
As combinações favoritas dele são ATo, KTo, KJo, QJo, QTo. Ou seja, são mãos que têm cartas do nosso range de valor. Por exemplo, QTo serve como blocker para e . Por que escolhemos essas mãos e não draws fortes? A resposta fica clara quando analisamos o range de call do big blind.
Contra nosso all-in, ele é forçado a foldar 84% das mãos, incluindo alguns top pairs – um pouco de , , e muitos . Por que especificamente ? Por conta da equidade adicional dos backdoor straights. Ele também é forçado a foldar draws fortes como , . paga, pois tem combo draw com gutshot, a equidade é suficiente. No geral, uma boa quantidade de mãos fortes acaba foldando.
- Aumento do bônus de primeiro depósito
- Aumento de rakeback e em bônus
- Ajuda com depósitos e saques
- Acesso a freerolls exclusivos
- Suporte 24 horas por dia, 7 dias por semana
Abrimos em middle position e recebemos um call do big chip leader no cutoff. Stacks dos jogadores:
Flop:
A primeira coisa que devemos fazer é verificar o risk premium. Para nós, é de 14,1%; para o cutoff, menor: 4,8%. O stack dele é muito grande – não conseguimos ameaçá-lo com força.
Nossa estratégia aqui envolve cerca de 80% de checks, mas quando decidimos apostar, o all-in de três potes volta a ser a escolha preferida.
O range de valor é tradicional e intuitivo – top pair forte (AJs, AJo) e p overpair mais fraco ( ). Blefamos com overcards: AQo, AQs e KQo. A lógica é que seremos pagos por combo draws como , que dominamos, mas que ainda assim forçam folds de quase todos os segundos pares e até de parte dos .
Muito eficiente!
Vamos em frente: agora, um pote de 3-bet.
Cutoff com 36 bbs dá raise, botão com 27 bbs dá 3-bet. O cutoff dá call, e o flop vem .
O risk premium é alto para ambos: 9,4% para o cutoff, 12,4% para o botão.
Depois do check do cutoff, quase todas as ações do botão são shoves de 2,2 potes. A frequência de apostas de 40% do pote é mínima.
As mãos que o botão escolhe para o all-in são um pouco diferentes dos exemplos anteriores. No nosso shove, temos muitos JTs e algumas ATo. Os overpairs mais fracos – valetes e damas – são quase evitados, mas com reis e ases damos shove em quase metade das vezes. Isso ocorre, primeiro, porque o range de call do cutoff inclui damas e valetes. Quando damos shove com reis, recebemos call de overpairs do vilão. Segundo, os valetes precisam de menos proteção, pois possuem gutshot.
Mesmas posições, outro pote de 3-bet, mas agora com o flop . Nessa textura, tanto o jogador em posição quanto o fora de posição aplicam com gosto os all-ins no SPR 2.2. Há vantagens em ser o primeiro a shovar.
Veja, por exemplo, o range de donk shove do cutoff:
Vemos mãos criativas – T9s, T8s, draws fortes como K9s, KQo, AQo. O shove por valor mais claro é JTs.
O botão é forçado a foldar com bastante frequência. Se olharmos para o EV, até paga com pouca alegria. Grande parte de AJo é foldado! Para pagar, é preciso ter o – isso adiciona equidade. KJo e QJo pagam com mais frequência por causa do backdoor straight draw. e são foldadas. Duas pontas com KQo: fold! Gutshot com overcards como AKo – fold!
Se o cutoff der check, o direito ao all-in passa para o botão, e ele aproveita isso ativamente. O range de shove dele inclui muitas mãos que ele teria que foldar caso enfrentasse o all-in do oponente.
E, depois do shove do botão, é a vez do cutoff foldar equidade. Mãos como T9s, T8s, AQo, KQo e até uma parte significativa dos voam para o muck.
É um spot interessante em que quem shova primeiro ganha muita fold equity! Se você se encontrar nesse spot jogando do cutoff, lembre-se: não é obrigatório dar check para o agressor pré-flop – donk shoves não são proibidos pelas regras!
Último par de simulações – donk shoves do big blind.
No primeiro caso, temos uma mesa final com stacks muito curtos, o stack médio é de apenas 20 bbs. O raiser no botão tem 16 bbs, e o big blind tem um pouco mais – 24 bbs.
O BB dá call, e o flop vem . Essa é uma ótima textura para o defensor, e com um SPR de 2.5, o big blind faz donk shove com 30% das mãos!
Sim, risk premium! Para o BB, ele é de 7,8%; para o botão, de 11,7%. Um acréscimo considerável.
Com quais mãos é melhor ir all-in? Muitas vezes são utilizados draws como , e não é necessário ter flush draw – basta uma simples duas pontas e flush draw. Muitas mãos do tipo par + straight draw. Os blefes menos intuitivos incluem overcards com gutshot e uma carta de espadas – J9o, Q9o, K9o, A9o. Seria difícil encontrá-las sem o auxílio de um solver. Há também overcards que shovam sem gutshot – como ATo. O all-in com essa mão traz uma série de efeitos positivos. Sobre as two-way straight draws com , já comentamos – são uma categoria bastante intuitiva.
A matriz de calls e folds do botão ajuda a entender por que o shove com ATo é tão bom – pelo menos porque o oponente pagará com A8o e A9s, mas ao mesmo tempo folda muitas mãos que nos vencem, incluindo algumas top pairs! A7o sem o – fold. Outras pares sem equidade de backdoor também são descartados.
No exemplo final, nas mesmas posições, o botão agora tem 27 bbs e o big blind 17 bbs. O flop é .
Como sempre, começamos pelo risk premium: 10,8% para o BB, 7,4% para o botão. Alto, mas não absurdamente.
Nessa textura, o BB pode shovar 2,7 potes com cerca de 25% de suas mãos. "Me dá esse pote agora mesmo!"
O range de valor é fácil de compor – são simplesmente top pairs. Os blefes são variados – gutshots fortes, duas pontas como e , além de combo draws.
Muita coisa fica clara quando vemos o range de call do oponente.
Mais uma vez, ele precisa foldar muitas top pairs diante do all-in! e misturam calls e folds quase igualmente, com a decisão muitas vezes dependendo dos naipes. Muitos e quase todos – são foldados – para seguir, essas mãos precisam de backdoor flush draw. Todas as conexões mais fracas vão para o muck (exceto, claro, ) e muitos segundos pares também.
Ou seja, o all-in força o oponente a desistir de bastante equidade! Com seu donk shove, o BB toma a iniciativa do spot.
Vamos falar um pouco sobre por que essa é a linha ótima. Como em muitos outros casos, não há um único motivo claro. Os principais fatores:
– Em condições de ICM, manter o stack é mais importante do que acumular fichas extras, e o all-in gera máxima pressão no adversário. Ganhar um pote pequeno agora já é um ótimo resultado.
– Evitamos check-raises, nos quais teríamos que largar muitas mãos com boa equidade.
– Evitamos cartas perigosas no turn, que podem enfraquecer subitamente nossas mãos de valor.
– Tomamos a iniciativa da mão e roubamos do oponente a fold equity.
Quando os overbet shoves se tornam parte importante da estratégia? Geralmente em texturas dinâmicas, nas quais muitos turns mudam drasticamente a equidade de ambos. O clássico são flops médios/baixos com flush draw, mas flops com cartas mais altas, como: com flush draw, também se enquadram.
Não encontrei exemplos de all-ins em boards monotone, mas eles aparecem em flops rainbow com certa frequência.
É importante que haja um risk premium de médio a alto para ambos os jogadores.
Escolha das combinações para all-in: Mãos com 40–80% de equidade, ou seja, fortes, mas não nuts. O valor é fácil de identificar, logicamente. Os blefes, por outro lado, costumam ser menos intuitivos. Heurísticas frequentes incluem:
- Interseção com o range de valor (veja o primeiro exemplo),
- Ases altos, que fazem o oponente foldar mãos mais fortes e ainda dominam alguns draws que podem dar call ao all-in.