Na semana passada, voltei para Las Vegas depois de passar um tempo na nevada Costa Leste — bem a tempo do início da série Wynn Millions. Imediatamente me inscrevi em um dos primeiros torneios: buy-in de $600 e premiação garantida de meio milhão. Ao me sentar à mesa, me preparei para um dia inteiro de jogo.
A área do torneio no Encore é cercada por máquinas caça-níqueis e, em pouco tempo, um dos meus vizinhos de mesa brincou que poderíamos correr até uma slot entre as mãos para testar a sorte. Todos ficaram animados, discutindo os méritos de diferentes jogos e debatendo quais máquinas ofereciam as melhores expectativas. Eu apenas sorri, mas permaneci em silêncio — não porque não quisesse participar da conversa, mas porque simplesmente não tinha nada a dizer sobre slots. Nunca joguei em uma máquina caça-níqueis na minha vida.
— Você ficou tão quieta — comentou o cavalheiro. — O que acha?
Expliquei que não jogo jogos de azar. Nunca aposto em nenhum jogo de cassino, seja slots, craps ou qualquer outra coisa.
— Ah, qual é? Você joga poker — ele rebateu.
— Poker não é um jogo de azar — respondi, repetindo pela centésima vez essa frase. Parece que terei que continuar dizendo isso enquanto jogar. — Não é gambling.
Ele discordou:
— Claro que é gambling, querida. E você está se enganando se pensa o contrário.

Tentei reforçar meu ponto com um argumento que já me ajudou muitas vezes a diferenciar jogos baseados em habilidade dos que dependem apenas da sorte:
— O poker é o único jogo de cassino onde você pode ganhar com a pior mão e perder com a melhor. Isso é a definição de habilidade. Nos outros jogos de cassino, para vencer, você precisa formar a melhor combinação. Não há habilidade envolvida, apenas sorte.
Claro, às vezes a mão chega ao showdown, e a melhor mão vence. Mas a maioria das mãos termina antes disso — um dos jogadores ganha porque os outros foldam. Talvez o vencedor realmente tenha a melhor mão — todos nós já vimos alguém virar seus pocket ases com orgulho depois de um grande raise, como se quisesse mostrar sua superioridade. Mas talvez ele simplesmente tenha interpretado melhor a situação e forçado você a foldar uma mão mais forte.
Os melhores jogadores vencem não porque têm mais sorte nas cartas (embora isso nunca atrapalhe), mas porque pensam melhor, ajustam melhor suas estratégias e superam os outros, mesmo quando suas cartas não são boas.
No meu livro, escrevi sobre um fenômeno estatístico curioso: uma amostra de centenas de milhares de mãos jogadas em diversas salas de poker online ao longo de seis meses mostrou que a melhor mão no showdown venceu apenas 12% das vezes. Esse número me impressiona toda vez que o lembro. Doze por cento! Isso significa que nos outros 88% dos casos, as pessoas ganharam apesar de terem cartas piores. Isso é a vantagem da habilidade!
Os melhores jogadores de poker não são apenas bons. Eles são significativamente superiores aos piores, especialmente quando medimos pelo ROI (Return on Investment). Quando os economistas Steven Levitt e Thomas Miles analisaram os dados da WSOP de 2010, descobriram que os profissionais mais habilidosos (selecionados antes da série começar) tiveram um ROI médio de 30,5%, ganhando em média mais de $1.200 de lucro por torneio. Os demais jogadores tiveram um ROI negativo de -15%, perdendo em média pouco mais de $400 por torneio. Relatei esses números em O Maior Blefe.
Desde o lançamento do livro, as evidências só aumentaram. Uma análise de 2023, que examinou 91.439 jogadores ao longo de 40 meses — mais de 85 milhões de mãos de No-Limit Hold’em —, encontrou “apoio inequívoco para a hipótese de que a habilidade determina os resultados no nível individual” e “apoio claro para a ideia de que a habilidade governa os resultados e lucros no poker online (ou seja, que jogadores habilidosos dominam o jogo)”.
Além disso, os autores do estudo identificaram outra característica dos jogos baseados em habilidade: com a prática, seus resultados melhoram. Nos jogos de azar, não importa quanto você jogue — isso não mudará seus resultados no longo prazo. Como Ellen Langer demonstrou em seu estudo clássico sobre cara ou coroa, nenhum esforço ou inteligência pode melhorar sua capacidade de prever o resultado desse evento.
Nos jogos de habilidade, no entanto, o aprendizado e a experiência fazem diferença. O tempo investido na prática importa. Na amostra de poker online, jogadores com maior volume de jogo mostraram melhorias significativas ao longo do tempo em indicadores-chave de habilidade no poker, como a seleção de mãos iniciais. Os autores do estudo chegaram à seguinte conclusão:
Para um iniciante que começa no décimo inferior da distribuição de nível de jogo, nossas estimativas indicam que são necessárias, em média, cerca de 57.000 mãos para alcançar o nível de um jogador experiente, o que equivale a aproximadamente 710 horas de prática (cerca de 30 dias). Para alguém que dedica, em média, 5 horas efetivas por dia ao jogo, isso corresponde a cerca de 7 meses de treinamento intensivo. É claro que esse número não deve ser tomado ao pé da letra, pois nossas variáveis para medir habilidade ainda são relativamente simples e não capturam todas as nuances da maestria no poker online. Nesse sentido, nossa estimativa representa mais um valor mínimo do tempo necessário para se tornar um jogador habilidoso.
Sete meses de dedicação integral. Isso é um treinamento sério – e, arrisco dizer, mais do que muitos que se consideram profissionais estão dispostos a investir. O fato de que essa estimativa provavelmente esteja subdimensionada reforça ainda mais o argumento de que o poker é um jogo de habilidade. As atividades mais complexas exigem maior investimento de tempo, análise e esforço.
Em 2024, Elissa Harwood apresentou uma análise jurídica sobre o poker na Washington University Law Review, resumindo mais de uma década de pesquisas sobre o poker como um jogo de habilidade, incluindo a opinião do economista e estatístico Randal Heeb. A análise de Heeb, baseada em 415 milhões de mãos online, demonstrou que os jogadores mais habilidosos ganham consistentemente no longo prazo, os menos habilidosos apresentam os piores resultados e os jogadores medianos “ainda assim não se saem tão bem”.
Para conduzir essa análise, Heeb desenvolveu um índice de habilidade, dividindo aleatoriamente a amostra de jogadores em dois grupos. No primeiro, ele realizou uma análise de regressão e identificou 240 fatores relacionados à taxa de vitórias. Depois, aplicou esses fatores ao segundo grupo para determinar os jogadores mais habilidosos e, em seguida, comparou os resultados. Descobriu que aqueles que se classificaram nas posições mais altas do índice de habilidade realmente foram lucrativos dentro da amostra.
Outro estudo estatístico, que analisou os resultados em cada street de apostas, mostrou que, em média, 56,2% do lucro de uma mão se deve à habilidade, enquanto 43,8% se deve à sorte. Esses resultados até permitem que o poker passe no "teste dos 50%", um critério que alguns reguladores utilizam para determinar se um jogo deve ser classificado como jogo de azar.
E esses são apenas estudos recentes dos últimos dois anos. Se voltarmos às pesquisas das últimas duas décadas, encontraremos ainda mais evidências, mas a conclusão é sempre a mesma: poker não é jogo de azar. O vencedor do Prêmio Nobel de Economia, Daniel Kahneman, ao comparar investidores profissionais com jogadores de poker, observou que os resultados dos pokeristas eram muito mais determinados pela habilidade. Em comparação, os investidores pareciam verdadeiros apostadores.
"Para a maioria dos gestores de fundos, a escolha de ações se parece mais com um lançamento de dados do que com uma partida de poker", disse Kahneman. "Os fundos bem-sucedidos em um determinado ano são, na maioria das vezes, apenas sortudos: tiveram um bom lançamento de dados. Pesquisadores concordam que quase todos os operadores do mercado – saibam disso ou não (e poucos sabem) – estão simplesmente jogando um jogo de pura sorte."
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Poupando meu oponente de uma citação de Kahneman, tentei encerrar a discussão.
Ele apenas acenou, dispensando minha "ingenuidade tola".
— Não vou discutir, porque é um prazer jogar com você — disse ele, um tanto enigmático. — Mas você está errada.
Eu deveria estar feliz por existirem jogadores assim. Quanto mais pessoas acreditam que o poker é apenas uma sucessão de eventos aleatórios, melhor para aqueles que realmente sabem jogar.
Ainda assim, toda vez que sou forçada a ter essa conversa, sinto uma pontada no coração. Gostaria que, pelo menos entre os jogadores de poker, houvesse um entendimento claro da diferença entre o jogo que jogamos – cheio de decisões calculadas, teoria dos jogos e pensamento estratégico complexo – e o mundo dos jogos de azar, onde pode até existir uma estratégia ideal, mas, no fim, tudo se resume a fechar os olhos e torcer para a sorte ajudar.
Por isso, o melhor conselho para iniciantes que estão prestes a entrar em um torneio contra adversários muito superiores ao seu nível é registrar-se o mais tarde possível, com o menor stack inicial permitido. Isso força jogadores mais habilidosos a dependerem mais da sorte, reduzindo as decisões ao pré-flop, onde há menos informações, mais incerteza e mais espaço para o acaso. Quanto menos oportunidades eles tiverem de superar você e mais as cartas decidirem o jogo, melhor.
É claro que sempre haverá um elemento de sorte no poker. Assim como em tudo na vida. Mas para aqueles que usam isso como desculpa para parar de pensar, para desistir de tomar decisões estratégicas corretas e para igualar poker a craps ou baccarat, deixo uma citação de Thomas Jefferson:
"Se consideramos os jogos de azar imorais, então toda atividade humana é imoral, pois não há nada que não esteja sujeito ao acaso."