Natasha Ego1stka conversou com o grinder online Vyacheslav Balaev (nicilawcoop), que mantém um blog no fórum com o título “de 0,8 a 10k em 100 dias”. Vyacheslav falou sobre os pontos negativos da lendária série Triton, a importância do esporte, a habilidade de mudar de foco e jogar 7.500 torneios por ano. E também sobre os mitos que cercam os jogadores recreativos chineses e as cidades russas. A propósito, Vyacheslav venceu novamente recentemente, então não se esqueça de adicionar seu blog aos favoritos!
– Oi, Vyacheslav! Parece que você é o único jogador de língua russa que criticou a série Triton. Teve algo de que você gostou no evento na Coreia?
– Tudo é relativo. Já participei de cerca de 25 séries de poker ao vivo, quase sempre em Sochi. Em termos de estrutura e organização, Sochi ganha em todos os aspectos. Parece que a Coreia é pior em literalmente todos os sentidos.
– Vi que você também não gostou de Sochi na sua primeira viagem...
– Sim, a primeira impressão foi mais ou menos, não agradou. Parece que era uma série do Stars, simplesmente não havia mesas suficientes para os jogadores. Isso me surpreendeu e me deixou confuso.

– Como são as festas e a interação social na Triton? Conheceu alguém interessante?
– Nesse aspecto, tudo estava ótimo. Conversei com muitos caras que eu já conhecia. Foi interessante conhecer pessoalmente aqueles com quem a gente costuma se encontrar online.
– Como você se divertia e relaxava entre os torneios?
– O hotel tem campo de futebol e quadra de tênis, mas o clima estava ruim – chovia todo dia e fazia uns 12 graus, então não dava pra fazer muita coisa. Joguei tênis com a esposa do Stephen Chidwick e algumas partidas de futebol 5x5. No resto do tempo, era tecnicamente impossível encaixar qualquer coisa além do poker.

– Quais séries você gosta?
– Sochi é ótimo, Chipre também. Gostei da série no Altai – a organização é pior, mas a natureza é incrível... A organização em Kaliningrado também não é das melhores, mas a cidade é maravilhosa. Fui com minha esposa para a série lá e gostamos tanto que acabamos ficando quatro meses, decidimos morar lá.
Barcelona teve muitos problemas de organização, mas o mar e a cidade compensam tudo, então o lado negativo some. A Triton, no meu ranking pessoal, fica tranquilamente em penúltimo lugar.
– Tem planos de ir ao WSOP? Lá sim que o problema é sério – tanto na organização quanto no clima.
– Já faz quatro anos que tento ir, mas continuam me negando o visto. Já tentei no Brasil, onde a taxa de rejeição é de 15%, e em Jacarta, onde é de apenas 3%, e ainda assim não consegui.
– E as séries na América Latina?
– Morei um ano na Argentina e fui ao Uruguai, ali perto, para uma série em outubro. Surpreendentemente, foi tudo muito bom. Essa série se tornou uma das minhas favoritas – os fields são ótimos, a estrutura e a organização excelentes, o staff é educado. Há muitos estabelecimentos por perto e um cassino à beira-mar, o que também conta. Gostei muito. Mas agora moro no México, e de lá é muito longe. É estranho gastar $2.000 em passagens para jogar um torneio de $500.

– Li que você gostou muito mais do México do que da Argentina. Por quê?
– Para um jogador profissional de MTT, o México é mais tranquilo por causa do fuso horário. Eu jogo bastante, 7.500 torneios por ano. Na Argentina, minha sessão noturna terminava por volta das 22h ou meia-noite.
Pra mim, e pra maioria dos meus amigos, o momento de “desacelerar” após a sessão é muito importante. No México, por exemplo, jogamos padel depois da sessão. Aqui termino às 18h ou 19h, o que me dá três horas para fazer esporte. Isso ajuda muito a recarregar as energias. Na Argentina, essa possibilidade não existia.
Além disso, morávamos em Buenos Aires, uma cidade de 16 milhões de habitantes com tudo que isso implica – barulho, tumulto, agitação. Não gostei disso. Já no México moramos em uma vila aconchegante, com muitos conhecidos no mesmo condomínio e vários jogadores de poker por perto.

– Vamos falar sobre sua primeira Triton. Foi a primeira vez que você jogou limites tão altos?
– Sim, ao vivo foi a primeira vez. Antes disso, meu máximo tinha sido um torneio de $10.000.
– Ficou nervoso?
– Acho que não. Assisti a muitas transmissões da Triton, além de trabalhar constantemente no meu jogo, e os fields online são obviamente muito mais difíceis. E ao vivo, meu jogo não é ruim também.
Não houve nervosismo, mas eu realmente não queria sair com um grande prejuízo. Planejamos investir $350-$400k com o backer. Se não conseguíssemos nada, e esse era um cenário muito real, então a viagem de uma semana poderia ser compensada online durante todo o ano. Em geral, a principal tarefa era não perder tudo.
O nível de jogo, francamente, é muito fraco na Triton. 10% dos regs jogam realmente bem – a maioria deles são russos, há apenas alguns estrangeiros. Os regs old-school da Triton jogam muito mal.
Em geral, há em média dois jogadores online na mesa, é mais difícil com eles, e todos os tipos de Greenwoods e Dan Smiths não causaram dificuldades.

– E como é o field comparado a Sochi? Teve que se adaptar aos empresários chineses?
– Há tantos mitos sobre os "fish" chineses – como se eles fossem all-in de A5o com 100 bb, entregassem stacks, mas na realidade não havia ninguém completamente perdido. Bem, tinha um empresário chinês de mais de 50 anos. Tecnicamente ele é obviamente mais fraco que os regs, mas no geral é um jogador bastante pensante e compreensivo. No geral, não encontrei nenhum "fish" na mesa. O que é uma pena, porque fui com a esperança de que eles me dessem stacks em cada mão, assim como nos clipes das transmissões.
– Como o field da Triton é diferente de Sochi?
– Em Sochi, 90-95% dos jogadores são amadores. E aqui há muito mais profissionais, é claro. Além disso, jogadores ultra-top como Artur Martirosyan, Juan Pardo, Adrian Mateos não vão para Sochi. Foi interessante jogar com eles ao vivo, já que nos encontramos em toda sessão online. Também joguei na mesma mesa que o Phil Ivey, o que foi legal. Está claro que ele já se aposentou, mas ainda assim é muito bacana.
– Pode contar sobre sua 3-bet com 98o na mesa final? (Destaques da mesa final, mão nº 2)

– Mao Renji é profissional, jogamos o dia todo juntos, então eu tinha bastante informação sobre ele. Ele joga de forma bastante passiva no pós-flop. Em geral, é um adversário pensante e consciente, mas tight. Naquele momento, Mao era chip leader e deveria abrir cerca de 25% nesse tipo de situação.
A mão era boa – está no fundo do calling range, e esse tipo de mão é bem interessante para 3-bet quando se está entre pagar e foldar. Mas isso só se você tiver certeza de que não vai errar no pós-flop.
Eu tinha certeza de que o Mao não ia aplicar pressão no pós-flop e jogaria de forma bem padrão, baseado nas cartas.

– Você teria dado fold se ele apostasse no turn ou no river?
– Sim, contra ele seria fácil. No turn, o SPR já estava em 0,6, então eu só pagaria uma aposta bem pequena, tipo 10%. Com certeza daria fold para um shove.
– Teve alguma outra mão difícil durante a série?
– Teve uma mão contra o Alex Foxen num torneio de $30k que foi bem tensa. Provavelmente a mais tensa da série inteira. Estávamos com stacks de 60bb, quinto ou sexto nível do torneio.
Foxen abriu do botão, eu estava no big blind com , o flop veio com duas de paus.
Eu dei check, o Alex apostou grande, cerca de 75%. Em teoria, nossa mão já é indiferente, mas eu queria jogar. A aposta grande ali é muito polarizada, geralmente eles apostam menor com draws de flush. Decidi que, se viesse o flush, eu iriablefar.
O turn foi um , dei check, o Foxen apostou grande de novo, e eu paguei. O river completou o flush, mas não completou nenhuma sequência.
Eu dei um donk shove, uma pequena overbet. Esperava que ele foldasse rápido. Eu sabia que ele teria algo bom, mas não consigo pensar em blefes nesse cenário.
O Alex pensou por um bom tempo e queimou uma ficha de time bank atrás da outra. Acho que usou umas oito, mas no fim acabou foldando.

Fiquei bem nervoso nessa hora. O fato de que o late registration ainda estava aberto só aumentava minha ansiedade. Fiquei pensando: "Agora ele vai me pagar, vão abrir minha mão e vou ter que dar uma reentrada de $30k".
Foi uma mão totalmente desnecessária, poderia facilmente ter sido evitada.

– Ganhar um milhão mudou sua vida de alguma forma? Comprou algo extravagante?
– Não, foi mais como um bônus agradável; financeiramente, nada mudou pra mim.
Agora, moramos no México, e não temos planos de ficar aqui por muito tempo, então nem pensamos em comprar imóvel – definitivamente não. Eu gostaria de voltar pra Rússia quando estiver menos ativo no poker. Se morássemos na Federação Russa, talvez eu comprasse um apartamento por impulso. Mas agora moramos numa vila e, se for pra comprar algo, seria uma bicicleta boa. :)
– Você comemorou a vitória?
– A agenda estava muito apertada, eu tinha que jogar das 14h até 2-3h da manhã. Em outras séries, você termina por volta das 21h e pode encontrar os amigos, jantar, conversar. Mas aqui era só poker e sono. No último dia da série, nos reunimos de forma espontânea no saguão e jantamos juntos no restaurante.
– Foi à festa do Triton?
– Dizem que foi legal – boliche, bilhar, os caras elogiaram. Mas eu dormi e perdi :)

– Você costumava organizar maratonas e colocar MAZs no blog. Isso te ajudou a alcançar seus objetivos?
– Em 2016, comecei a jogar na base em Chelyabinsk. Tinha que ir até o apartamento e jogar lá. Não gostei da forma como tratavam os jogadores e, depois de três meses, me separei deles. Fiquei sozinho, sem nenhum contato com outros jogadores. Por isso fui ao GipsyTeam e criei um blog.
Minha primeira maratona foi dos $800 aos $10k. Lancei pra me motivar, e funcionou muito. Ganhei leitores e uma certa responsabilidade com eles. Sentia que tinha que conseguir aqueles $10k em 100 dias. Por causa disso, passei a tratar as sessões com mais seriedade. Normalmente, tanto faz se você ganhou $300 ou $400, mas durante uma maratona, esses detalhes importam.
– Como você se motiva hoje?
– O formato mudou. Treino com um grupo pequeno de regs com coaches tops, e isso motiva demais. O coach define metas, e eu dou meu máximo pra alcançá-las.

– Li que você trabalhou com um coach mental e que isso "virou sua visão de mundo de cabeça pra baixo". Pode falar sobre isso?
– Sim, eu entrei no time Futti18, e já no primeiro treino o Sergey disse que tinham começado a trabalhar com um coach mental. Na época, eu morava num vilarejo perto de Chelyabinsk e nem entendia esse papo. "Quem são esses coaches mentais de vocês?", pensava eu. Achava que isso era coisa pra quem não estava bem da cabeça. Achei que eu com certeza não precisava disso! Mas acabou que todo mundo no time estava indo pra esses treinos, então fui também.
Já no primeiro treino percebi que foi um erro não ter prestado atenção nisso antes :) Descobri que o componente mental no poker, mesmo no ABI $100, é talvez mais importante que o técnico. Preparação para as sessões, a parada depois, estabelecer metas, entender sua própria motivação – tudo isso é crucial.
Os livros do Tendler e “No Pico” do Brad Stulberg também me ajudaram muito. Graças a eles e aos treinos, entendi que no poker não vence quem sabe mais, mas quem comete menos erros. O sucesso é uma combinação de técnica e preparo mental.
– Você usa alguma dessas ferramentas até hoje?
– Aquecimento antes da sessão é essencial. Além do preparo técnico, sempre vou à academia ou à piscina. Comparei e percebi que quando eu pulava o aquecimento, a qualidade do jogo caía muito. Também pratico meditação. No meu caso, o esporte influencia demais meu desempenho – até um simples passeio de bike já ajuda.
O descanso também é importante, e não só tecnicamente. Pra mim, ele também é o esporte. Ele impacta na recuperação e na qualidade das sessões seguintes.
Sem tudo isso, é simplesmente impossível jogar três vezes por semana, cinco telas em limites altos e manter o A-game. A variância é alta, então você é praticamente forçado a jogar 6.000 ou 7.000 torneios por ano se quiser lucrar $400k–$600k.

– Você nasceu e viveu por muito tempo na região de Chelyabinsk. Existem muitas lendas sobre Chelyabinsk. Como é a vida lá na realidade?
– Acho que como em qualquer cidade do interior da Rússia. Eu morava num vilarejo perto de Chelyabinsk, então nem sei ao certo. A vida é a vida. O lado bom é que os preços são baixos :)
– Como você entrou no poker?
– Me formei no ensino técnico, fui pro exército e depois arrumei emprego na minha área. O lugar era bem ruim – a Fábrica de Zinco de Chelyabinsk. Na primeira semana já parecia que o exército era melhor. Queria algo mais. Um amigo jogava poker e postava screenshots das vitórias dele, então comecei a me interessar. Fui entender o que era esse poker – no começo só fazia depósitos e mais depósitos, até peguei empréstimos. Mas um dia dei sorte, venci um field gigante no Stars por $7. Ganhei $25.000. Meus amigos sugeriram que eu contratasse um coach, e foi assim que fui parar na base de um time. Peguei o básico ali, mas logo saí. Depois comprei um pacote de treinos com o Ilya Legend, e assim começou minha carreira profissional.
– Quais obstáculos foram os mais difíceis no começo?
– Dar calls no river. Você mostra a mão, vê o nuts e pronto. E isso dia após dia.
Mentalmente, me faltava concentração. A região de Chelyabinsk tem +2h em relação a Moscou, as sessões acabavam às 7h ou 8h da manhã, eu ia dormir lá pelas 10h, e acordava esgotado à noite. Se você vive assim por meio ano, vira um zumbi. Eu também jogava vôlei antes do poker, mas larguei quando comecei a grindar mais. Isso deixou tudo ainda mais difícil.
No geral, os obstáculos foram muitos. Cometi muitos erros – mas os outros, aparentemente, cometeram mais :)
- Aumento do bônus de primeiro depósito
- Aumento de rakeback e em bônus
- Ajuda com depósitos e saques
- Acesso a freerolls exclusivos
- Suporte 24 horas por dia, 7 dias por semana
– Hoje seu foco está mais no online ou no live?
– Os fields ao vivo são mais fracos, mas é um passo atrás tecnicamente. Voltar pro online nos limites altos depois será incrivelmente difícil. Um ano parado já pode ser o fim da carreira. Pega o Mateos e o Pardo como exemplo – joguei com eles na Triton, e poucos dias depois já estavam grindando torneios de $100. Em geral, todo mundo que está no auge joga muito online. É inevitável.
– O que você gostaria de conquistar no poker?
– O plano pro ano é consolidar no ABI $500 com uma winrate de dois dígitos. No último ano e meio, minha winrate tem sido de cerca de 11bb/100, e meu coach exige 15 :)
O plano pra três anos é chegar aos high stakes mantendo uma boa winrate. Tenho como exemplo meu grande amigo Vladimir Minko. Quero ser como ele – jogar qualquer torneio sem precisar de satélite. Por exemplo, rola um torneio de $25k numa série, e eu posso sentar porque sou bom, independentemente do field. No geral, quero atingir o nível máximo nos MTTs e depois me aposentar. Ah, e acumular bankroll, quase esqueço do mais importante! :)
– Já pensou no que gostaria de fazer quando se aposentar?
– Quero passar mais tempo com a família e investir em autodesenvolvimento. Meu filho tem 11 anos, e eu gostaria de dedicar mais tempo a ele. Atualmente jogo padel e tênis, e gostaria de jogar ainda mais depois da aposentadoria.
