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A primeira questão que surge ao lidar com novos formatos, como o progressive knockout (PKO), é entender as diferenças em relação aos torneios clássicos. Os ajustes para PKO devem começar já no pré-flop, tanto nas fases iniciais quanto nas finais. Este artigo ensina a expandir e estreitar os ranges de abertura em torneios com bounty, eliminando a necessidade de decorar charts de pré-flop para knockout.

Bubble Factor

Antes de discutir os ranges, é importante compreender quais fatores influenciam os ranges de abertura. Uma das principais diferenças entre torneios clássicos e knockouts está no bubble factor. (O termo “bubble factor” indica o quanto as fichas não perdidas são mais valiosas do que as ganhas.) A presença de bounties adiciona equidade (na forma de prêmios extras) e nos incentiva a jogar de forma mais ativa quando há chance de conquistar um knockout. Também utilizamos o termo “risk premium”, que indica a porcentagem adicional de equidade necessária em um all-in em comparação com uma situação similar em chipEV.

A tabela abaixo apresenta os valores de bubble factor e risk premium para torneios clássicos e de knockout na bolha, com todos os jogadores com stacks de 30 bb. O bubble factor é um número, enquanto o risk premium é expresso em porcentagem:

Clássico:esquerda; knockout: direita

Mesmo quando nossa vida no torneio está na linha, o risco de participação em mãos no knockout em comparação ao clássico é consideravelmente menor. No knockout, precisamos apenas de 5,9% de equidade adicional, enquanto no torneio clássico é de 14,2%. Em torneios knockout, há situações em que o bubble factor fica negativo, o que significa que devemos jogar com ranges ainda mais amplos do que se calculássemos apenas pelo chipEV.

Observe que no exemplo acima, o bounty de alguns jogadores é $150, e não $125. Qual o efeito disso? Os jogadores com bounty mais alto têm um bubble factor ligeiramente reduzido — de 1,27 para 1,22. Nessa situação, isso não influencia muito os ranges, mas em fases mais avançadas do jogo, diferenças no tamanho dos bounties podem afetar significativamente as decisões ideais.

Obviamente, os ranges nos knockouts precisam ser ampliados, mas em que medida? Vamos comparar o range de open raise — RFI.

Comparação para stacks simétricos

As tabelas abaixo mostram as mudanças no RFI em torneios de knockout em comparação com os torneios clássicos. Em alguns casos, o GTO Wizard utiliza tamanhos de field ligeiramente diferentes — 70% para o clássico e 75% para o PKO, como indicado na primeira coluna.

O que chama a atenção é que, embora os bounties estejam disponíveis para todos os jogadores, os ranges se expandem de maneiras diferentes. Para entender o motivo, é necessário observar o bubble factor. Como na tabela anterior, a primeira coluna indica a fase do torneio, a segunda o tamanho do stack (igual para todos os jogadores). Nas duas colunas seguintes, é mostrado o bubble factor médio para todas as posições. A última coluna mostra a diferença entre o bubble factor nos torneios PKO e clássicos.

A comparação dessas tabelas ajuda a entender como a alteração no bubble factor impacta a estratégia e os ranges. Algumas conclusões:

  • Nas fases iniciais e médias dos knockouts, o bubble factor permanece negativo, sinalizando que não é necessário seguir as odds clássicas para jogar de forma lucrativa. À medida que o torneio avança, a diferença no bubble factor entre knockout e clássico aumenta devido ao crescimento dos bounties. Além disso, em PKO com pagamentos padrão, apenas metade do buy-in vai para os prêmios, tornando a estratégia de sobreviver aos oponentes menos vantajosa.
  • Vale notar que, na bolha, a presença de bounties não supera a importância de alcançar os prêmios — para dar all-in, ainda precisamos de mais equidade do que em chipEV, como nos torneios clássicos.
  • Nos knockouts, fazemos open shove com muito menos frequência em stacks de 20 bb. Devido ao baixo bubble factor em stacks de 20 bb, podemos jogar muitas mãos no small blind, o que transforma muitos all-ins dos torneios clássicos em limps ou raises.

Comparação para stacks assimétricos

Agora que entendemos como o bubble factor impacta stacks simétricos, vamos para uma situação mais realista, onde precisamos considerar se cobrimos ou não nossos oponentes.

75% do field — ICM

Clássico:esquerda; knockout: direita

Conclusões:

  • O bubble factor para jogadores sem chance de knockout permanece semelhante ao do clássico, mas muda consideravelmente para aqueles que podem conquistar um knockout. Isso afeta principalmente as posições finais, ampliando os ranges de raises padrão e de all-ins.
  • Quando o botão tem mais fichas do que ambos os jogadores nos blinds, o risk premium para ele torna-se negativo, permitindo uma expansão significativa do range e aumentando a frequência de open shove em 4,4%. O SB e o BB estão mais inclinados a dar call no all-in (6,1% mais para o SB e 5,9% para o BB).
  • O small blind, jogando contra um big blind menor, quase sempre usa limps ou all-ins. A razão é que a eliminação nessa fase não deve assustar muito o jogador no BB, e a presença de bounties permite que o SB jogue mais agressivamente com all-ins.

ICM na Bolha

Conclusões:

  • O bubble factor no PKO é significativamente mais baixo do que em torneios clássicos, mesmo para os stacks menores, e difere ainda mais entre os grandes e médios stacks. No nosso exemplo, o risk premium do botão é negativo, devido à possibilidade de conquistar o bounty de ambos os blinds. Assim, é mais lucrativo para o botão dar shove em vez de min-raise, pois os blinds farão call com um range mais amplo — 3,5% a mais para o small blind e 5,7% para o big blind.
  • O small blind dá all-in 10% mais frequentemente, mesmo quando coberto pelo big blind. Isso ocorre porque o BB pode dar calls muito mais amplos devido ao bounty. Nos torneios clássicos, o BB dá call em 15,8% dos all-ins, enquanto nos knockouts progressivos, o percentual de calls sobe para 22,7%.

Conclusão

Trabalhar nos ranges de abertura no pré-flop é o primeiro passo essencial para uma estratégia correta nos progressive knockouts. O RFI é influenciado pela fase do torneio, o tamanho do stack e a chance de ganhar o bounty de um ou mais oponentes. A principal diferença dos knockouts progressivos em relação ao clássico está na diferença nos bubble factors: em knockouts, eles são mais baixos devido à equidade adicional que o bounty oferece. Isso permite abrir ranges mais amplos e dar all-ins com mais frequência nas posições finais, especialmente contra oponentes com stacks menores. No entanto, o efeito do bounty diminui próximo à bolha.