Daniel: Eu estava há umas duas semanas reclamando de uma tosse forte. E acredita que hoje ela sumiu de repente? De manhã, joguei golfe com o Christian (Nota: treinador e velho amigo de Negreanu), depois passamos num restaurante mexicano, bebi uns dois copos de sangria e aconteceu um milagre. Pra quê remédio?

Amanda: Você sabe que isso é temporário, né?

Daniel: Agora só vou me tratar com uísque ou tequila. Além de tudo, é divertido beber.

Amanda: E a ressaca? Você não vai jogar poker amanhã?

Daniel: Só no dia seguinte ao lançamento do podcast. Está rolando uma série de mixed games do PokerGO no Aria, o Josh Arieh está por lá. Já jogamos golfe com ele e com o Christian, e nosso time ganhou! Você sabe que, anos atrás, eu e o Christian jogávamos golfe por $150 mil por buraco? Em um dia desses jogos dava pra ganhar ou perder milhões! No nosso primeiro jogo, logo depois que contratei o Christian, enfrentamos o Patrik Antonius e o parceiro dele por $20 mil por buraco. O Christian é um ótimo e experiente jogador de golfe, mas naquele dia foi o pior em campo. Ele tinha certeza que eu ia demiti-lo na hora. Sorte que eu joguei bem e salvei a gente.

Na época em que conheci o Christian, eu já tinha perdido mais de $3 milhões pro Ivey e outros no golfe. E tanto ele quanto o Doyle e o resto adoravam jogar comigo.

Amanda: Você é muito degenerado...

Daniel: Até o Chip Reese saiu da aposentadoria por minha causa, de tão mal que eu jogava. Ele tinha perdido a cartilagem do joelho, mal conseguia andar, mas eu topava apostas enormes. Eles eram verdadeiros hustlers e não resistiam.

O Doyle já estava perto dos 80, com sobrepeso, andava com bengala, mas isso nunca impediu ele de ir pro campo. Só que com ele a gente jogava com regras especiais. Ele usava os tees femininos e podia bater de lá em todos os golpes (Nota: pelas regras padrão, o tee é usado só na primeira tacada). No nosso primeiro, jogo ele me ganhou $550 mil. Mas isso foi bem antes de eu conhecer o Christian.

Pra mim, o maior gambler no golfe é o Phil Ivey. Na verdade, acho que ele é o maior gambler de todos. Normalmente, os jogos eram combinados para 18 buracos. O Phil nunca fazia isso — dizia que íamos decidir a cada buraco. Se depois de três buracos ele via que o adversário estava num dia melhor, ele simplesmente pagava e ia embora. Uma disciplina incrível. Quase todo mundo tentaria recuperar. No poker ele jogava do mesmo jeito. Tenho um amigo que é o completo oposto...

Alô, E-Dog. Hahaha. Todo mundo sabe que o Erik é um ludo completo, o Doyle e outros killers exploravam essa fraqueza dele sem dó.

O Doyle e o Ivey às vezes pareciam um casal velho, junto há cem anos. Um texano branco já idoso e um jovem negro de New Jersey. Às vezes se odiavam, às vezes se amavam. Lembro de uma história em que fomos a um clube de golfe às 11 da manhã. Eles começaram a discutir sobre a vantagem que o Doyle teria. Ele queria 4,5 tacadas de vantagem, o Ivey só aceitava dar 4. Às 15:30 eles ainda não tinham se acertado e todo mundo entendeu que não ia rolar jogo naquele dia

Com o Erik era diferente. Ele dizia:

– Doyle, te dou 4.

– Não, preciso de 5.

– De jeito nenhum!

Aí o Erik saía, voltava cinco minutos depois:

– Tá bom, 5.

Amanda: Mas era o Doyle, como recusar?

Daniel: E por que aceitar tudo o que ele quer?

Amanda: Você mesmo disse, ele tinha 80 anos. A velhice merece respeito.

Daniel: Ele sempre foi velho! E sabe o que o Doyle faria se tivesse 50 anos e jogasse com um velhinho de 80? Tentaria tirar até o último centavo dele. Um matador nato, foi assim a vida toda. E ele teria te limpado na primeira oportunidade. Claro que estou falando de dinheiro.

Amanda: Eu percebi. Mas pouco antes de morrer, ele me mandou mensagens sugerindo várias maneiras de se livrar de você...

Daniel: O Doyle era um contador de histórias excelente. Para quem se interessa pelas história de gambling, recomendo ler os livros dele. Ele conhecia pessoalmente o Tony Spilotro – que serviu de inspiração para o personagem do Joe Pesci, no filme Cassino. Era um verdadeiro psicopata, já ouvi histórias completamente insanas sobre ele, era figura frequente nas notícias.

Aliás, falando em notícias, vamos compartilhar sua atualização – quer dizer, nossa – sobre a FIV.

Amanda: Nos próximos dias, nossa barriga de aluguel vai receber a implantação do embrião. Você vai estar jogando, e eu vou visitá-la. Logo saberemos com certeza se o procedimento foi bem-sucedido.

Daniel: Em fevereiro aconteceu a cerimônia do Global Poker Awards. As primeiras edições, antes da parceria com o GPI, eram em Los Angeles, bem pomposas. Convidavam celebridades, e os profissionais mais conhecidos faziam questão de ir. Até o Doyle Brunson, o Phil Ivey, o Johnny Chan e outros apareciam. Hoje em dia parece que ninguém liga. Praticamente nenhum jogador apareceu.

Amanda: Eu assisti um pouco da transmissão, mas só por causa do Jeff Platt.

Daniel: Ele estava excelente. Apresentou muito bem, fez piadas boas, até fez piadas com alguns convidados. Mas senti que algumas pessoas ficaram com medo de rir. Enfim, a cerimônia mudou bastante, e eu nem sei mais como escolhem os vencedores.

Amanda: Você teve direito a voto?

Daniel: Sim, mas não sei quem mais vota. Tenho certeza de que, em algumas categorias, os eleitores não sabiam o que fazer. Eu mesmo não assisto a nenhum stream, então na categoria de "streamer do ano" só tinha duas opções – ou não votar, ou escolher quem eu acho mais simpático. E como eu vou escolher a “melhor série de torneios com buy-ins médios”?

Prêmio é considerado o "Oscar do Poker" e condecorou outras dezenas de categorias.

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Amanda: Dá pra simplesmente não votar em algumas categorias?

Daniel: Dá, mas acho que quase ninguém faz isso. A maioria deve votar no chute mesmo.

Amanda: Eu vi a lista de vencedores. Confesso que não conheço quase ninguém. E quando você não ganhou como “melhor vlogger”, eu fiquei pronta pra arrancar a garganta de todo mundo. Aliás, o Jeff soube brincar muito bem com isso.

Daniel: Sim, quando anunciou os indicados, ele disse:

– Chegou a hora de revelar o vencedor na categoria “vlogger do ano”. É um trabalho muito difícil: você precisa escolher a capa mais idiota possível, depois colocar uma narração por cima, e mesmo que invista uma grana enorme, como o DNegs, não vai ganhar, porque a maioria dos eleitores é da Europa.

Ah, me ofereceram o prêmio de “Ícone do Poker”. Recusei, mas não por humildade. É claro que eu sei que mereço esse reconhecimento há tempos. Mas ainda tenho só 50 anos – o Phil Hellmuth ou o Erik Seidel são mais velhos que eu e deviam receber antes.

Também gostei muito da forma como o Jeff apresentou a categoria de “oponente mais difícil”:

Nessa categoria entrevistamos os 100 melhores jogadores e convidamos todos para a cerimônia. Nenhum veio.

O problema é que eu e você já não fazemos mais parte desse mundo. Eu praticamente não convivo com os jogadores mais jovens e não assisto vlogs. Na cerimônia estavam três garotas que fazem conteúdo excelente – a Marle Spragg, a Nikki Limo e a Caitlin Comeskey. A gente nem conhece elas, mas são superpopulares e têm um público enorme.

Mas de uma coisa eu tenho certeza: os organizadores precisam mudar alguma coisa. A maioria dos jogadores simplesmente não se interessa pela cerimônia. Eu tenho algumas ideias, mas não quero me aprofundar nisso agora.

Vamos mudar de assunto. O LeBron James postou no Instagram a tabela dos próximos jogos dos Lakers. Ele escreveu na legenda: “loucura!!!!”.

Em março eles vão jogar 6 partidas em 7 dias. A tabela é realmente esquisita. O post dele me lembrou do velho Phil Hellmuth, que recentemente causou polêmica dizendo que não vai jogar o Main Event.

Kevin Martin encontra dólares e Bitcoin esquecidos há muito tempo, Elky saiu do GGPoker, Phil Hellmuth anunciou um boicote ao Main Event da WSOP, a aposta paralela de Brewer foi resolvida e muito mais das redes sociais do poker.

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Daniel: Aliás, ele está super orgulhoso que aquele tweet já passou de um milhão de visualizações.

Amanda: Eu entendo perfeitamente. O cronograma de alguns torneios hoje em dia é simplesmente insuportável.

Daniel: Mas isso faz parte da vida. Em qualquer esporte, quanto mais velho o jogador, mais difícil vai ficando com o tempo. O Phil provavelmente não vai concordar comigo, mas ele pensa, antes de tudo, no que é melhor pra ele. Só que se queremos mudar as regras do poker, temos que pensar no que serve pra maioria dos jogadores. No Main Event, ninguém joga até 3 ou 4 da manhã – a ação vai até a meia-noite. Eu sugeri ao Phil que fizessem os dias 4 e 5 com quatro níveis em vez de cinco, mas ele quer um dia de folga completo. O torneio já é longo, e se a gente encurtar os dias ou adicionar folgas, vai durar quase três semanas. Isso quem menos vai gostar são os recreativos.

Existe também a opção de mudar a estrutura. Mas ela é a mesma desde os anos 70, e eu realmente não gostaria de reduzir o tempo dos níveis.

O charme do Main Event da WSOP está justamente nisso – por conta do cansaço, qualquer jogador pode cometer um erro e ser eliminado. Essa estrutura sempre serviu bem ao Phil por 20 anos, ele só quis mudar agora que chegou aos 60. Embora, claro, antigamente o Main não tinha 10 mil inscritos e terminava bem mais rápido.

Quero contar uma outra história. Aconteceu ontem no jogo de hóquei – algo que nunca tinha me acontecido antes.

Amanda: Isso já soa assustador.

Daniel: Durante o jogo, eu, o Josh e a esposa dele, Rachel, estávamos conversando sobre filmes e séries coreanas – Parasita, Round 6 e por aí vai. Eu disse que o melhor é assistir com legendas, o Josh falou que odeia legenda. A gente começou a discutir as diferenças culturais entre a gente e os coreanos, e comentamos que eles têm um jeito muito particular de falar. Reações super intensas, até com coisas pequenas. Eu adoro o programa A Batalha dos 100, e tentaram passar esse estilo na dublagem em inglês. Aí eu tentei imitar, e nesse momento um cara asiático da fileira da frente virou, me olhou com cara feia e disse: “Ótimo sotaque coreano”.

Tentei levar na brincadeira, dei um tapinha amigável no ombro dele e perguntei se ele falava coreano. Mas ele me ignorou completamente.

– Acho que ele ficou mesmo irritado – sussurrei pros meus amigos.

E olha que eu imito sotaques do mundo inteiro desde sempre, mas nunca tinha tido essa reação.

Amanda: Eu entendo por que isso pode incomodar algumas pessoas. Tem gente que vê como zombaria.

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Daniel: Mas não é nada disso, por isso não me importo com o que pensam. Isso é problema deles. Já imitei judeus, indianos, asiáticos, qualquer um. Nunca com intenção racista ou de diminuir a cultura de ninguém.

Hoje em dia tratamos a palavra “racismo” com muita leviandade. Só porque imitei um sotaque coreano quer dizer que odeio coreanos ou me acho superior? Claro que não. Muita gente, inclusive, curte. Meus amigos indianos, por exemplo, vivem pedindo pra eu fazer o sotaque deles – acham engraçado. E se eu perceber que a pessoa se incomoda, óbvio que eu paro.

Entendo que quem não me conhece possa ver isso de forma ofensiva. Mas é preciso olhar mais a fundo. Como é que eu ia ofender alguém falando sobre filmes coreanos e comentando uma diferença cultural tão evidente? Na Rússia também a cultura é totalmente diferente, e o humor deles é bem particular.

Um adulto tem que saber lidar com frustrações. Não dá pra esperar que todo mundo aja como você quer. E o pior é deixar essas situações afetarem seu humor. Claro que eu não sei o que se passa na vida daquele cara, mas posso dizer uma coisa – você vai se sentir muito mais feliz e sua vida vai ser mais rica se, em momentos assim, parar de presumir o pior sobre os outros. Não precisa ver maldade em tudo que as pessoas fazem.

Sempre me lembro de uma entrevista antiga do Morgan Freeman. Perguntaram pra ele como acabar com o racismo. Ele respondeu:

– Parem de falar sobre isso. Parem de dizer “homem negro” ou “homem branco”, somos todos apenas pessoas.

Concordo 100%. Crianças são amigas umas das outras sem se importar com cor de pele. Os problemas começam quando ensinam pra elas sobre minorias e o que torna cada um diferente.