– Hoje temos como convidado o vencedor do Campeonato de Cash Game, Owen 'PR0DIGY' Messere. Parabéns, foi um grande show.
— Obrigado. Foi muito bom vencer, mas também queria que os espectadores se divertissem. Espero ter ganhado com estilo.
— No nosso último podcast, você lamentou que o aspecto competitivo do poker ficou em segundo plano e que o gambling puro tomou conta. Você mencionou que os streams do Hustler têm grande culpa nisso e que o poker deveria ser exibido como o xadrez. O CoinPoker conseguiu cumprir essa missão?
— Acho que sim. Foi um espetáculo incrível para os verdadeiros apreciadores do poker. Mostramos como é o jogo no mais alto nível. Os top regs acompanhavam os streams, discutiam as mãos, alguns até se exibiam um pouco. Gostaria que todas as competições de poker fossem assim.
Já estou sentindo falta dessas batalhas intensas contra os melhores. Depois do campeonato, joguei pouco, principalmente heads-up. Mas a intensidade e a adrenalina não são as mesmas.
— Um pequeno spoiler: daqui a algumas semanas vamos lançar um podcast com Armin 'AbsoluteTopUp'. Ele disse exatamente a mesma coisa. Parece que todos os regs de high stakes entraram em um modo de hibernação. O único jeito de resolver isso talvez seja se unirem e começarem a jogar reg wars apenas pelo espírito competitivo.
— Tirei apenas algumas semanas de folga. Mas se eu mergulhar no grind agora, logo perceberei que nunca se descansa o suficiente. Os caras que terminaram no meio da tabela provavelmente não se desgastaram tanto, pois não precisaram jogar até o último dia. Mas eu terminei completamente esgotado. Quando tudo acabou, passei uma semana inteira sem jogar. Foi estranho – antes disso, eu nunca tinha ficado mais de um ou dois dias longe do poker.
— Isso afetou seu desempenho?
— Sim, depois do intervalo, joguei muito mal. Ja.sam.gale me destruiu no heads-up, em uma das sessões ele terminou com um stack de 1.000BB. Claro, ele teve muita sorte, mas eu também senti que minha concentração não estava lá. E sem foco, contra um jogador desse nível, você não tem chance.
Mas não estou muito preocupado, sei que logo volto ao meu melhor nível. É algo comum: depois de um upswing, você começa a jogar mal. Você se acostuma com tudo dando certo e com as fichas vindo até você sem esforço.
— No nosso último podcast, você disse que seu objetivo era se tornar o melhor jogador do mundo. E seu nickname reflete isso. Chamamos aquele episódio de 'O novo melhor jogador de poker?' Podemos tirar o ponto de interrogação agora?
— Naquela época, eu contestei esse título. Parecia arrogante demais, mas vocês me convenceram de que, com um ponto de interrogação, era aceitável.
Agora, depois dessa vitória, o título não me incomoda tanto, mas ainda acho exagerado me chamar de "melhor jogador". Fiz um campeonato excelente, joguei muito bem, mas mesmo em 40.000 mãos sem um upswing, esse resultado seria impossível de alcançar.
Não importa quão bonito seja meu gráfico final, eu não posso pendurá-lo na parede e me chamar de número um. Antes, preciso provar isso em batalhas contra Linus e DavyJones.
— Até que ponto os resultados do desafio refletem a realidade? Então, o SeaLlama foi o pior jogador?
— Haha, sim, foi engraçado que terminamos em extremos opostos da tabela. O SeaLlama pagou pela sua arrogância.
No ACR, ele jogava muito contra Linus e DavyJones, às vezes com Ja.sam.gale e Barack também. Comparado a isso, o desafio parecia um jogo mais fácil, e ele achou que todo mundo lhe daria fichas.
Eu, por outro lado, entrei desde a primeira mão totalmente concentrado.
Alguns jogadores não pareciam levar o campeonato a sério. O Linus, por exemplo, simplesmente parou de jogar quando estava perdendo 15 buy-ins. É uma quantia grande, mas totalmente recuperável.
Já Kevin Paqué tinha uma abordagem diferente: "Se hoje estou perdendo 15 buy-ins, amanhã jogo 16 horas seguidas para recuperar."
O DavyJones perdeu as primeiras semanas do campeonato, e isso também afetou seu resultado.
No geral, há três jogadores contra quem não tenho certeza de ter uma vantagem: Linus, Davy e Lama. Contra os outros, tenho um bom edge. Mas eu também colocaria o Kevin nesse grupo de elite. Meu top 5 dos melhores regs seria exatamente esse – e o resto está bem atrás.
— Quais são as winrates dos top regs hoje? Você terminou o campeonato com 10bb/100. Esse número é realista?
— Na verdade, foi quase 14bb/100. Dê uma olhada no gráfico do Davy, ele tem 7-9bb/100 em um volume gigantesco de reg wars. Sim, ele joga contra recreativos também, mas nunca faz table selection.
Por isso, não entendo os regs que dizem que é impossível ganhar mais de 2bb/100 em reg wars. Para mim, isso só significa que esses jogadores não entendem a fundo o poker.
Pense assim: dois jogadores jogam GTO, mas a cada 1.000 mãos tomam uma decisão marginal em um pote de 20bb. No mundo real, os regs jogam de forma tão agressiva que frequentemente disputam potes de 200bb.
Basta alguns desses potes para aumentar o winrate em 5bb/100.
Nos reg wars, as edges podem ser enormes. Se alguém começa a passar do limite, a vantagem de um jogador sobre outro cresce ainda mais, porque os counter-exploits são ainda mais eficazes do que os exploits.
Por exemplo, se você paga um all-in com todo o seu range, isso pode ser um desastre se seu adversário não estiver blefando o suficiente ou se estiver extraindo mais valor de forma mais fina.
Contra regs que jogam de forma muito defensiva, os winrates são menores, mas também não dão trabalho. Mas ninguém entra em reg wars com o objetivo de "perder devagar".
Não sei qual é o winrate máximo possível em reg wars, mas não ficaria surpreso se alguns jogadores conseguissem 5bb/100 no longo prazo.
— Muitos regs de stakes médios acreditam que reg wars são impossíveis de serem lucrativas.
— Você está falando daquele famoso tweet do Saulo Costa? Ele disse que qualquer reg do NL500 perderia no máximo 3bb/100 jogando reg wars no NL20k. Onde posso encontrar esses regs? Estou pronto para dar a eles 3bb/100 de vantagem. Mesmo entre os regs do NL10k, há uma enorme diferença de expectativa.
— Você não fez table selection durante o desafio?
— Não olhava para os adversários, apenas para meu estado mental. Claro, em algumas mesas minha expectativa era menor, mas não estávamos jogando por winrates, e sim por dinheiro.
Depois de uma sessão muito longa, eu podia sair de uma mesa ruim, mas no início, não fazia a menor diferença para mim contra quem eu jogava.
Chegaram até a me oferecer side bets na minha winrate, mas recusei, porque isso me obrigaria a selecionar mesas, e eu não queria isso. Embora, na prática, eu teria vencido todas essas apostas com tranquilidade.
— Você se preparou para o desafio? Como trabalhou no seu jogo desde nosso primeiro podcast?
— Fiz muitas mudanças técnicas no meu jogo. Ultimamente, parei de usar solvers porque senti que eles estavam influenciando meu jogo de forma exagerada.
Joguei muito heads-up no último ano, o que me ajudou bastante no desafio.
Encarei o campeonato como 20 partidas separadas de heads-up e tentei jogar contra cada adversário com um plano específico já preparado.
Depois do desafio, conversando com Riggedeck, eu disse: "Espero que cada adversário tenha ficado com uma impressão diferente do meu jogo. Um pode achar que eu pago tudo, enquanto outro pode dizer: ‘Do que você está falando? Ele não pagou nenhum river contra mim’."
Não fiz uma preparação específica para o campeonato. Apenas revisei minhas anotações sobre os adversários. Como não havia tantos participantes, todos já se conheciam bem, e muitas vezes jogávamos 3 ou 4-max.
Uma das grandes diferenças entre os top regs e os jogadores do nível abaixo é a capacidade de mudar de estilo de jogo. Os regs mais fracos costumam ter jogadas que funcionam muito bem, mas não sabem exatamente quando aplicá-las.
Elas podem ser eficazes contra 80% do field, mas contra os 20% restantes, apenas queimam dinheiro.
No longo prazo, essa jogada até pode gerar EV, mas continua sendo um leak, porque contra os jogadores que entendem isso, você perderá muito.
Esse tipo de meta é muito importante em batalhas entre top regs, e isso ficou bem evidente nas mesas com cartas abertas do desafio. Alguns jogadores usavam bem as informações extras, enquanto outros simplesmente as ignoravam.
— Dê um exemplo.
— Munez foi o que melhor soube usar essas informações. Ele descobriu muitos dos meus blefes, mesmo em spots onde eu estava muito confiante. Antes do desafio, ele sempre foldava nessas mesmas situações. Por padrão, eu o classificaria como um jogador tight, mas logo no começo do campeonato ele conseguiu se ajustar. Não conferi os números, mas tenho certeza de que, mesmo com meu upswing, ele me ganhou bastante durante o desafio.
Muita gente subestima a quantidade de informação que pode ser coletada jogando com cartas abertas.
— Você não ficou paranoico achando que os adversários leriam seu jogo com facilidade?
— Eu sabia que perceberia rapidamente se eles começassem a se ajustar. Confio muito no meu jogo para lidar com isso. Como já disse, muitos regs simplesmente ignoraram o fato de que o jogo estava sendo transmitido com cartas abertas.
O que me surpreendeu foi que várias das minhas jogadas continuaram funcionando até o final do desafio. Jogamos um volume grande, dava para notar alguns padrões.
Mas não, eles continuaram foldando, como se fosse o primeiro dia.
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— Quais eram suas expectativas para o desafio? Você entrou com a mentalidade de vencer?
— Sim, meu objetivo era ganhar. Claro que nem tudo está sob nosso controle, e eu estava preparado para um downswings.
Na primeira semana, fiquei próximo do breakeven, apesar de ter jogado bastante. Mas mesmo nesse período, eu sentia que estava jogando melhor que meus adversários – só que os coolers não estavam do meu lado. Então, um dia, ganhei 12 buy-ins em uma sessão e peguei embalo. Essas coisas são difíceis de avaliar objetivamente, mas desde o primeiro dia, eu me senti totalmente confiante.
Mesmo quando o TopUp estava muito à frente, eu sentava para jogar pensando: "A questão não é se eu vou ultrapassá-lo, e sim quando isso vai acontecer." Sei o quão arrogante isso soa, especialmente em um torneio com uma variância tão grande. Mas eu realmente me sentia assim.
No desafio inteiro, houve apenas duas sessões das quais não gostei. Foi como entrar em um ciclo positivo: eu ia dormir satisfeito com meu jogo, acordava me sentindo bem e pronto para esmagar todo mundo. Para mim, era essencial manter meu A-game por toda a duração do campeonato sem me queimar mentalmente.
Fiquei um pouco nervoso no final, quando a diferença entre mim e Riggedeck ficou mínima. Não duvidava do meu jogo, apenas fiquei preocupado por estar jogando mais volume do que o necessário.
Em uma das sessões, meu lucro total chegou a $500k, mas depois caiu para $450k, enquanto o Rigged estava com $480k. Me arrependi um pouco de não ter parado no topo.
No final, a dinâmica era interessante: poderíamos jogar perfeitamente e ainda assim perder tudo por causa de um cooler.Mas teria sido um erro apenas jogar para segurar a vantagem – isso não garantiria nada. Então, continuei jogando para ganhar. Se eu tivesse que perder, pelo menos não seria por covardia no final. O Rigged parecia ter a mesma mentalidade.
— O ego influenciou sua vontade de ganhar? Ou entre os top regs isso não faz tanta diferença?
— Entrei no desafio sentindo que tinha algo a provar. Com certeza, mais do que alguns outros jogadores. Ninguém sabia exatamente o quão bom eu era – eu precisava mostrar isso.
Para alguém como Linus, o resultado não fazia grande diferença, ele já tem uma carreira consolidada. Talvez isso gere uma pressão extra, mas para mim não teve nenhum efeito negativo. Pelo contrário, me deu ainda mais motivação e me fez jogar melhor. Claro, o desafio foi tranquilo para mim, então é difícil dizer como eu reagiria a um downswings. Mas percebi há muito tempo que jogo melhor sob pressão. Isso se reflete nos torneios. Não sou especialista em MTTs, e sempre fico um pouco nervoso quando chego em uma mesa final. Mas isso nunca me impediu de jogar meu melhor poker.
— Você se prepara para essas situações de pressão? Ou acontece naturalmente?
— Em fields difíceis, acontece naturalmente. Já em mesas mais fracas, eu acho difícil jogar meu melhor. No fundo, sei que tenho uma margem de erro – um recreativo ainda vai perder seus 5bb/100, mesmo que eu não jogue no meu mais alto nível.
— Quais sessões do desafio foram mais memoráveis para você?
— Os dias mais estressantes foram aqueles em que eu não jogava. Meus amigos me enviavam screenshots de mãos em que o Rigged ganhava stacks um atrás do outro. E eu só queria esquecer o poker e relaxar. Claro, eles não faziam por mal. Pelo menos, eu quero acreditar nisso. Fico mais ansioso com coisas que não posso controlar. Já na mesa, estou sempre tranquilo, mesmo quando a variância não está a meu favor. Mas talvez seja fácil falar isso quando você está vivendo um eterno upswing, tanto no poker quanto na vida.
— No começo do podcast, você mencionou seu top 5. Algum participante do desafio te surpreendeu?
— Desde os primeiros dias, muito antes de ele se tornar um candidato real à vitória, eu dizia o quanto o Riggedeck havia melhorado. Nós jogamos muito no ACR, e algumas das minhas jogadas simplesmente pararam de funcionar contra ele. Outro reg me disse que tinha reads muito confiáveis contra ele, mas o Rigged desafiou todas elas. O Kevin também me surpreendeu. Sempre soube que ele era um bom jogador, mas não tinha noção do quão bom. E também destacaria o AsianFlushie. Sabia que ele era muito forte no heads-up, mas no 6-max eu não tinha certeza. Nem sei o que ele anda fazendo hoje. Sei que no passado ele jogava muito heads-up contra Berri e Linus. Achei que esse desafio era pequeno para ele, mas ele levou muito a sério.
— Houve erros dos quais você se arrepende?
— Me arrependo de todas as mãos em que doei stacks para o Munez, ha-ha. Não lembro de mãos específicas, e não tenho os dados comigo agora.
Mas posso contar sobre um pote interessante. Foi um raise pré-flop, botão contra big blind.
Flop: rainbow.
O Munez deu check, eu apostei pote com – uma jogada de baixa frequência.
Turn:
Carta interessante. Aqui é um spot onde você pode dar donk bet do tamanho pequeno, mas ele checkou, e eu obviamente checkei também.
River:
Munez apostou 75% do pote, e eu shovei.
Minha lógica foi que meu não bloqueava seus gutshots, a também não bloqueava nada relevante, e ele não poderia ter . Ou seja, eu não bloqueava nenhuma das mãos de blefe dele, mas tinha muitas mãos de valor no meu range. Pensei: "F**-se, minha jogada parece muito forte. O Munez certamente vai foldar."*Ele pensou um pouco e deu call com .
Pode parecer que dei azar de pegar o topo do range dele, mas depois de uma aposta de 75% no river, eu precisava ter uma mão que superasse pelo menos . Com , eu sempre deveria pagar. Mas não foi um erro grave – o shove ainda foi melhor do que foldar.
Não fiquei muito abalado com essa mão, foi um spot raro e com uma dinâmica muito específica.
— Que mudanças você faria para um próximo desafio?
— Acho que o número de participantes deveria diminuir gradualmente. No início, todos podem jogar, mas em certo momento, só os top 6 deveriam continuar, para que a reta final fosse jogada apenas entre os melhores.
— Que conselho você daria para jogadores de stakes baixos e médios que sonham em participar de um campeonato como esse? Como eles podem te vencer?
— O mais importante é começar agora. Um dos maiores erros é fazer esse tipo de pergunta para jogadores como eu. Nas transmissões, sempre me perguntavam isso. As pessoas esperam uma solução mágica, mas eu só posso falar sobre o que funcionou para mim.
Você precisa testar todos os métodos de aprendizado possíveis até encontrar o que funciona melhor para você, e então se aprofundar nesse caminho. Veja quais métodos realmente impactam sua winrate. Quanto mais abordagens você testar, mais vai entender o que realmente melhora seu jogo.
Os iniciantes querem descobrir como estudar antes mesmo de começar a estudar. Mas o caminho certo é o oposto – testar diferentes formas de aprendizado e identificar as melhores. Se você experimentou algo e não viu progresso, pode parecer que perdeu tempo. Mas não é assim.
Digamos que você gastou 5 horas testando um método e percebeu que ele não funciona para você. No longo prazo, esse tempo será insignificante, mas a lição aprendida será muito valiosa. Você simplesmente elimina os métodos que não funcionam e nunca mais perde tempo com eles.
— Quais são seus planos para o futuro? Você mencionou heads-up, MTTs ou talvez vá para o live?
— Depois do desafio, tive bastante tempo livre para pensar em tudo isso. Com certeza vou continuar jogando heads-up. Gosto muito desse formato e há alguns jogadores que estão dispostos a me testar. Vamos ver onde isso vai dar. Depois, quero jogar um dos eventos do Triton.
Já falei antes que ultimamente parei de usar solvers. Minha intuição está em um nível altíssimo agora, como se eu já soubesse exatamente o que fazer. Claro, isso não pode durar para sempre. Mais cedo ou mais tarde, vou ser punido por isso.
Então, eventualmente, pretendo voltar ao estudo com software. Normalmente, a primeiro downswings já é o suficiente para me fazer voltar.
Você perde um pouco de dinheiro e logo pensa: "Ok, hora de voltar a fazer cálculos."
