TJ Cloutier é um dos jogadores de torneios mais bem sucedidos do final do século 20 e dos primeiros anos deste século. De 1998 a meados de 2006, ele foi o jogador nº 1 de torneios de todos os tempos. Nem mesmo Joe Hachem conseguiu superá-lo ao receber US$ 7.500.000 por vencer o Main Event das WSOP de 2005. Jamie Gold foi quem conseguiu o feito, quando ganhou o prêmio recorde do Main Event, US$ 12.000.000 em 2006.. Ao mesmo tempo, o próprio Cloutier nunca ganhou mais de $ 900.000 em um torneio de poker.
TJ nasceu em 1939 e começou a jogar poker aos 17 anos.
“Comecei com no-limit lowball”, lembra Cloutier. “Mas eu perdi tudo. Então mudei para o jogo de 5 cartas e imediatamente comecei a ter sucesso. Uma vez consegui jogar heads-up com o dono do clube onde o jogo foi realizado. Eu o limpei e trouxe para casa muito dinheiro. No dia seguinte, meu pai apareceu no clube – ele agarrou o dono e disse que o mataria se eu cruzasse a soleira do clube de novo. Naturalmente, na noite seguinte, sentei-me novamente à mesa.”
Mas a carreira profissional de TJ teve que ser adiada — ele foi convocado para o exército. Após o serviço, ele tentou a sorte no futebol americano e até conseguiu jogar por times profissionais de Toronto e Montreal. Mas devido a lesões, ele foi forçado a encerrar sua carreira esportiva antes do previsto. Cloutier voltou ao Texas e conseguiu um emprego em uma plataforma de petróleo. Lá, ele voltou a jogar poker com colegas e rapidamente percebeu que estava ganhando mais na mesa do que no trabalho.
Nos anos 70 e 80, a principal fonte de renda de Cloutier vinham dos jogos de poker ilegais. “Ganhei muito no grande jogo em Shrewport”, lembra ele. “Depois fui para Dallas, onde fui convidado para um jogo fechado, organizado por um cara chamado Charlie Bissell. Foi o maior idiota que eu já conheci. Mas ele montou um jogo incrível. Ganhei $200.000 lá em um ano. Depois Charlie disse que não me deixaria entrar novamente a menos que eu concordasse em dar a ele metade dos ganhos. Eu tive que concordar. E um dia ele disse, de repente, que nossa parceria estava terminando. Vários novos jogadores apareceram na mesa naquele dia. Alguns anos depois, em 1983, o jogo foi estourado pela polícia e me mudei para Vegas, onde comecei a jogar torneios”.
Na World Series, TJ ganhou 6 braceletes, o primeiro em limit Omaha, em 1987, e o último no NLHE, em 2005 . Ele também tem braceletes de Razz, Omaha hi-low, PLO e PLHE em sua coleção. E ele já esteve perto de vencer o Main Event da WSOP por quatro vezes.
Em 1985, ele perdeu no heads-up para Bill Smith. De acordo com Cloutier, Smith era alcoólatra, mas jogava bem: “Ele foi o adversário mais tight de toda a minha carreira, mas quando um pouco embriagado, ele jogava de forma excelente — ninguém lia adversários como ele nesta condição. Mas quando ele cruzou a linha e ficou muito bêbado, ele novamente começava a jogar de forma imbecil e imediatamente se tornava o pior jogador da história”.
Cloutier esperava que Bill ficasse bêbado durante o heads-up e começasse a cometer erros. Então, no final, aconteceu, mas era tarde demais, aquela altura, Smith tinha uma enorme vantagem em fichas e levou o título, ganhando $700.000. Cloutier recebeu $280.000. Bill Smith morreu em 1996, aos 61 anos.
Cloutier fez sua segunda aparição na mesa final em 1988. Eliminado em 5º lugar, ele ganhou modestos $63.000. E o título histórico do heads-up foi disputado por Erik Seidel e Johnny Chan.
Dez anos depois, em 1998, TJ ficou em terceiro lugar ($437.500). Esse torneio também é lendário, porque Scotty Nguyen venceu com seu bordão: "Se você der call, estará tudo acabado, baby!".
Dois anos depois, TJ chegou ao heads-up do torneio principal, quando perdeu para Chris Ferguson. Chris começou o duelo pelo título com uma vantagem de 10 para 1, mas Cloutier conseguiu nivelar os stacks. Na mão final, Ferguson pagou all-in com A9 e venceu o AQ de TJ. O river foi cruel, um Nove.
“Eu poderia ter 14 braceletes se o dealer abrisse as cartas que eu precisava quando havia 2-3 participantes”, disse Cloutier em entrevista. “Na maioria das vezes, eu me lembro do Nove de Chris. Mas quase ninguém sabe que logo após o Main Event, joguei mais dois torneios de $10.000 e fui ao heads-up em ambos. Nas duas vezes, fui separado da vitória por uma carta, três outs, o mesmo Nove”.
De acordo com Hendon Mob, o outro torneio de $10.000 que Cloutier jogou não aconteceu até 2003, então ou os torneios foram fechados ou foram criações da sua mente.
Apesar do sucesso nas mesas de poker, Cloutier sempre foi acompanhado pela fama de apostador e eterno devedor. Ele gastou todos os seus ganhos de poker em dados e corridas de cavalos. “Nos anos 70, eu jogava poker à noite, depois ia imediatamente para o hipódromo, onde ficava até o jantar”, lembra TJ. “Além disso, jogava rummy e blackjack”.
“Ninguém vivo perdeu mais no craps do que TJ”, escreveu Terrence Chen certa vez. “Obviamente, ele simplesmente não sabia jogar. Quando você se encontra na mesma mesa dele, você só precisa apostar contra ele”.
“Ainda jogo dados”, admitiu Cloutier em 2013. “Mas muito, muito barato. Era realmente meu problema, mas não tão grande quanto se acredita. Joguei muito, mas apenas com o dinheiro “deles”. Eu não escondo, perdi muito dinheiro nos cassinos, era um vício pesado”.
“O que é esse "dinheiro deles"?, perguntou o entrevistador. “Backers?”
“Não, quero dizer dos próprios cassinos. Eu ganhava muito dinheiro no Orleans ou MGM, pegava esse dinheiro e depois deixava a maior parte no Bellagio. Isso é tudo”.
Em janeiro de 2010, Plano Pawn colocou à venda um bracelete de $5.000 NLHE 2005. Com um preço inicial de US$ 2.999, a joia foi comprada por US$ 4.000. Os compradores eram jogadores anônimos, que devolveram o bracelete a Cloutier. Hoje, seu destino é desconhecido. Em 2013, o anel de Cloutier, que recebeu por vencer um dos torneios Legends of Poker de 1998, foi colocado à venda no eBay por US$ 2.500.
TJ também era famoso por amar “educar os jovens”. No fórum 2+2, um visitante anônimo relembrou a seguinte história:
Alguns anos atrás, um amigo e eu estávamos jogando $1/$2 no Casino Niagara. Em algum momento, um “vovô” sentou ao meu lado com um stack completo (uma raridade para jogadores mais velhos). Eu abri 6-6 do botão, ele deu call no SB e um jogador no BB deu call.
Flop 5-5-6, o vovô deu call na minha continuation bet.
Turn 9. Check, check.
River K, ele apostou, eu aumentei e ele empurrou instantaneamente.
Quando eu paguei, ele mostrou K-5 com um sorriso malicioso.
"Me desculpe, amigo, me desculpe" eu disse, e virei minhas cartas.
“Vai se f**** seu moleque”, ele disse bravo. “O quanto você está arrependido? O suficiente para me devolver o stack?”
“Não”, respondi.
“Então nunca mais peça desculpas.”
Eu não tinha ideia com quem estava jogando, só depois que fui informado que era o famoso TJ Cloutier.
Isaac Haxton também recebeu uma lição de sabedoria de TJ em sua primeira World Series.
“Cloutier virou suas cartas em um flip, ele tinha Ás e uma figura, e eu disse que tinha foldado um Ás. Seguiu-se uma cena não muito agradável: “Nunca impeça uma pessoa de acreditar nas suas chances! Antes, você poderia receber uma bala por algo assim, como um slowroll”, disse ele a Ike.
Parece que Cloutier educou os jovens à mesa toda a sua vida. Em meados dos anos 2000, em entrevista, avaliou o comportamento de Phil Hellmuth:
“Se ele tivesse jogado conosco no Texas, nos anos 70, e se comportasse como agora, não teria durado nem uma semana. Certa vez, joguei poker contra quatro assassinos famosos. Então você poderia ser enterrado simplesmente por palavras que eles não gostassem. Os jogadores modernos não entendem isso. Tudo é fácil para eles. Eu tinha que observar com um olho para não ser roubado e com o outro para não ser enterrado”.
No início dos anos 2000, Cloutier escreveu vários livros sobre estratégia. Tony Dunst encontrou recentemente um desses livros e ficou surpreso com o quanto a abordagem do jogo mudou desde então.
Em 2003, o Championship NL & PL Hold'em de TJ Cloutier foi considerado o melhor livro de MTT. No exemplo da primeira mão, ele aconselha a lagar AKo para para um raise.
Quase todos os torneios caros que Cloutier jogou foram para Billy Baxter e Lyle Berman. Seus principais sucessos vieram durante este período. Segundo rumores, os backers tinham uma condição importante: eles sempre receberiam o prêmio em dinheiro. As porcentagens eram generosas: eles ficavam com um terço para si mesmos, um terço ia para Cloutier e o outro terço para a esposa dele. A sociedade terminou no final dos anos 2000, e desde então TJ raramente joga torneios acima de $1.000. Seu buy-in médio é de $200-$300.
Cloutier é famoso pelo fato de poder pedir um empréstimo de $300 no primeiro encontro, mas o pagamento da dívida, como regra, não está incluído em seus planos. Recentemente, TJ chegou à mesa final de um torneio de $365 no Texas e terminou em 3º lugar ($6.000). O jogo foi transmitido ao vivo.
O aparecimento da lenda no YouTube deu origem a uma nova onda de memórias no fórum 2 + 2.
“Ele me tomou $400”, compartilhou um usuário. “Nos anos 90, cruzamo-nos num satélite, quando eu ainda era novo na WSOP. Durante o jogo, conversamos à vontade e, quando tudo acabou, ele disse: “Olha, me empresta 400 dólares, eu devolvo assim que me pegar meu dinheiro”. Não pensei nem por um segundo e calmamente lhe dei o dinheiro. Então ele se sentou para jogar cash e contou a seus vizinhos sobre isso. Todos os jogadores na mesa começaram a rir. Naturalmente, nunca recebi o dinheiro. Felizmente, saiu barato, em comparação com outros casos conhecidos por mim. Nos encontramos alguns dias depois, e T.J. disse que não tinha dinheiro com ele. Mas depois das histórias de outros regulares, já aceitei que não receberia essa dívida. Mas dei sorte, pois teria dado mais se ele tivesse pedido”.
“Provavelmente é difícil para a geração mais jovem entender”, escreveu outro usuário, “mas conheço muitos jogadores da velha guarda, e nenhum deles o considera um ladrão ou golpista. Ele até paga as dívidas se você o pegar na hora certa, quando ele realmente tem dinheiro com ele. Muitos daqueles a quem ele está em dívida ainda o tratam com simpatia. Ele nunca pediu $10.000 ou $50.000. Sempre foram quantias modestas. TJ nunca se comportou como Chino, de quem dizem que pediu um empréstimo para recompra durante um cash game, mas fugiu do cassino com o dinheiro assim que o credor foi para o banheiro. Nos anos 80, todos sabiam que TJ era um viciado que devia a todos. Mas sua situação financeira melhorou acentuadamente quando os backers entraram na jogada”.
“Tenho orgulho que T.J. Cloutier pegou US$ 600 comigo”, disse outro usuário. “Antigamente, era considerado uma espécie de rito de passagem”.
“Ele ainda te deve?”, usuários perguntaram.
“Sim, ainda nem se passaram 20 anos. Tenho certeza que ele vai devolver assim que ficar bem. Nao e culpa dele do vício por jogos de azar. Naqueles anos, muitas vezes cruzei com ele em torneios, mas não sabia nada sobre o amor por jogar dados. Ele pediu dinheiro quando eu estava conversando com amigos durante um intervalo. Sem pensar duas vezes, apenas lhe entreguei as notas. Assim que ele desapareceu, meus amigos começaram a rir e me avisaram para esquecer esse dinheiro. Eles acrescentaram que eu finalmente "tinha perdido minha virgindade". Eu o lembrei da divida depois, mas não forcei muito. Os tempos eram outros. Os jogadores emprestavam grandes somas uns aos outros porque quase todos os jogos eram impressoras de dinheiro.”
“Ouvi uma história sobre um cara do Canadá a quem TJ devia $300”, lembrou outro usuário. “Foi em 2005 ou 2006. Alguns anos depois, esse canadense veio para a WSOP, esperou até que TJ chegasse a uma mesa final, chegou lá e começou a gritar para todos sobre a dívida. Recebeu o dinheiro imediatamente”.