Hora de falar sobre o jogo blind contra blind. É um cenário muito simples: abrimos do small blind, e o oponente dá call no big blind. Vamos analisar todos os exemplos da perspectiva do small blind, mas eles também podem servir como lições para o big blind.
Escolhi uma estratégia sem limps para um rake mais ou menos padrão. Aqui estão os ranges de open do small blind e de call do big blind:
Os ranges são, obviamente, bem amplos, o que torna o jogo interessante. Em torneios, eles são ainda mais amplos devido ao ante (e à ausência de rake). Se incluirmos limps, também jogaremos mais mãos. Muitos limps, muitos checks...
Mas hoje vamos focar em um jogo sem limps. Vou explicar rapidamente minha estratégia simplificada. Simplificar é essencial, pois estudar todas as nuances de um spot com 578 combinações contra 490 é uma tarefa bastante complexa. Frases como “eu tenho mais sets” não vão ajudar muito. Por isso, nas aulas do Pokercode, dou o máximo de simplificações possíveis.
Divido as texturas de flop em range bets, range checks e boards equilibrados. Em seguida, analiso as segundas apostas (double barrels). Depois, vemos o check do oponente e a aposta dele. Por fim, as decisões nas streets finais... De forma metódica e sequencial. Hoje não conseguiremos cobrir tudo – é muito material. Para saber detalhes, assine nossas aulas.
Como o field joga?
Comparando o GTO com as estatísticas do field, vemos que ele costuma overfoldar nos ranges amplos. E isso ocorre em todas as streets! Overfold para três barrels, dois barrels e uma aposta única – c-bet no flop, c-bet no turn e até double delayed c-bet no river. Essa é a média, claro. Afinal, temos brasileiros no field que raramente overfoldam.
O segundo ponto é que o field não é agressivo o suficiente. Isso se mostra especialmente nos ranges amplos, o que não é uma tendência, mas sim uma realidade. Esse comportamento é natural – é difícil jogar quando você não tem nada, e a tendência é foldar. A definição de “nada” depende do contexto. No blind contra blind, K-high ou um par pequeno no flop com três overcards pode ser uma mão razoável. As pessoas têm dificuldade em avaliar corretamente a força relativa das mãos, e muitas vezes não entendem que têm muitas mãos de valor e não adicionam blefes suficientes a elas.
Isso nos leva a ver mais cartas do que no jogo GTO. Outro efeito é que os checks dos nossos oponentes são mais fracos do que deveriam ser. Afinal, os bluffs que eles não fazem acabam sobrando.
O field nos oferece maior realização de equidade. Imagine que você tem um flop com uma dama e está com , um blefe, e aposta porque sabe que o oponente raramente aumenta uma dama como deveria, então você verá o turn com frequência e, de vez em quando, acerta um rei. Lucro imediato! Da mesma forma, quando você dá check no flop com intenção de foldar, o oponente também checka e mostra a próxima carta. Em média, as pessoas jogam de forma passiva.
O blefe dá um EV imediato. Suponha check-check no flop, check-check no turn, e você aposta no river. O oponente quase nunca vai proteger o range o suficiente aqui. Pode apostar qualquer coisa, porque ele não tem nada. No GTO, deveríamos apostar no flop e no turn com blefe, mas as pessoas não fazem isso, e, até o river, o range deles é um buraco. Apostamos – eles foldam. Como normalmente ocorre entre blefe e blefe, quem aposta primeiro ganha o pote.
Uma abordagem mais agressiva de sua parte impede o oponente de realizar sua equidade. Isso é particularmente evidente no big blind. Imagine um flop , o small blind dá check. Não damos uma carta grátis a ele; fazemos uma aposta com nosso , e ele folda . Lucro!
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Explorando fraquezas
Chamo isso de "plano de pequenas investidas". Pressiono constantemente a parte fraca do range do oponente. Quero dar ao oponente o máximo de chances de cometer erros. Como fazer isso? Já que eles overfoldam e raramente aumentam? Apostando, é claro!
O segredo para este spot são apostas de tamanho pequeno. Elas funcionam bem em ranges amplos. Vamos ver o esquema da estratégia:
O big blind dá check. Isso nos dá uma nova oportunidade – gosto de pensar nas decisões como oportunidades. O oponente deu check, e seu range ficou mais fraco que o GTO, então temos uma ótima opção de delayed c-bet.
O oponente não deu check; ele apostou. Se foldarmos, a mão termina – a situação é ruim. Se dermos call, temos em mente que em alguns turns podemos dar um donk, e em outros é obrigatório!
Também podemos dar check-raise, mas isso já muda a dinâmica – os ranges no turn deixam de ser amplos. E não é isso que queremos.
Se o oponente folda para nossa c-bet – ótimo, ganhamos um pouco a mais – já sabemos que o field tende a overfoldar.
Se ele der call, sabemos que ele está fraco, pois não aumentou. Com essa informação, podemos fazer o segundo barrel no turn. Dependendo da carta, escolhemos entre uma aposta pequena, grande ou até exagerada.
Minha linha favorita é a delayed c-bet. É uma excelente investida leve, exatamente como planejado. Uma donk bet bem aplicada também é uma arma poderosa. Um segundo barril pequeno também faz parte da estratégia. E só para esclarecer, não estou sugerindo blefar o tempo todo: ao entender bem as texturas, você aprenderá a fazer apostas de valor bem sutis.
Vamos aos exemplos!
Delayed c-bet
Flop , turn... não, não é um Ás, seria fácil demais – vamos dizer que seja outro Dez.
Aqui, podemos fazer uma blocking bet com qualquer A-high e várias outras mãos. Por que isso funciona tão bem? Porque o range do oponente está cheio de mãos que ele vai foldar. Solvers até defendem algo como .
É claro que ninguém vai fazer isso. Nem mesmo nos high stakes espero ver um número suficiente de calls com . Esse é o primeiro leak natural. O segundo são os bluff raises perdidos. Observe o – as pessoas tendem a foldar essa mão sempre, em vez de dar call em 25% das vezes e raise em outros 25%! Isso é um bom blefe. Já que nessa textura não há blefes com equidade, você precisa blefar contra a blocking bet quando não tem nada.
Donk bet após check-call
Quero mostrar um exemplo em um flop pareado. O oponente se sente confortável em um flop como . Ele tem uma vantagem com trips, que ele aposta com um size grande, junto com straight draws e blefes como . Com todas as trincas ele aposta, sem slowplays. Não é uma overbet, mas ainda assim uma aposta grande.
Nós damos call, e o turn traz mais um Quatro. Opa! Com isso, o número de trincas no range do oponente cai pela metade, e seus straight draws perdem valor – em uma textura com três cartas iguais, o valor de um straight é bastante limitado. Qual deveria ser nossa estratégia?
100% de donk Bet! Uma aposta de 1/5 do pote é suficiente. Nossos A-highs conseguem tirar equidade do oponente, como no caso de . Dez outs eliminados! Um grande feito.
Quantos folds ele deveria fazer pelo GTO para essa aposta? 31%?
Com 86s, o solver responde à donk bet com um raise. Mas nós observamos calls com J-high e raises com . Na realidade, acredito que haverá mais de 50% de folds.
Check-raise no flop
Quero explorar essa linha porque existem boards onde é fácil e agradável fazer uma aposta de teste, mas muito difícil se defender. Um dos meus flops favoritos é rainbow, onde damos check com 60% das mãos.
Neste flop, nosso oponente não tem mãos offsuited que fazem dois pares, o que torna nossos overpairs nuts. As mãos fortes que ele pode ter neste flop incluem poucos sets de noves, todos os sets de cincos e dois, e um pouco de 95s. Nestas condições, podemos jogar pelo stack até com . E faremos check-raise com prazer com essa mão, enquanto o board estiver livre de overcards.
O big blind, nessa textura, após nosso check, aposta frequentemente. Ele aposta naturalmente com e para proteção, e tem muitos straight draws. Parece bom – mas na verdade seu range está muito mal protegido para o nuts.
Digamos que ele aposte meio pote. Nós fazemos check-raise! Nossos blefes são overcards com backdoor.
O oponente dá call. Qual seria a carta de turn ideal para nós?
Uma dez. Com isso, podemos avançar com força total. Ha-ha! Nossa mão se fortalece, no mínimo, até um straight draw, e nosso ainda é forte o suficiente para conseguir seu stack.
Suponhamos que recebemos um call e, no river, aparece um outro Dois. Todos os nossos straight draws erraram, mas isso não importa. Mesmo errando, ainda podemos exercer pressão, dependendo das circunstâncias e do range do oponente.
55% de all-ins! Certo, com falta um pouco.
Agora, se não fosse um Dois, mas, por exemplo, uma dama? Se surgir uma dama, então, big blind, até logo! Até a próxima.
E mesmo com uma dama, ainda podemos fazer uma blockin bet com por valor.
Para um bom check-raise, precisamos que o oponente tenha mãos que ele aposte confortavelmente e que depois largue.
Por exemplo, se ele aposta e folda para nosso raise, ótimo. Ou se ele aposta e nós respondemos com um raise de , e ele folda – perfeito. No entanto, se ele apenas der check com essas mãos fracas, isso não é muito vantajoso para nós. Por isso, frequentemente, em vez de fazer check-raise, é melhor mostrar agressividade imediatamente com um size maior. Mas especificamente no , o big blind tem a sensação de que acertou o board – há muitos straight draws e backdoors, e ele não pensa “ah, estou sem nada!”. Espero, então, que ele vá fazer uma aposta. Ele perceberá que está blefando depois do nosso check-raise.
Dois barris
Vejamos um board . O valete é um bom turn para nós. Se acertamos o valete, podemos apostar por valor com um size pequeno.
O que conseguimos tirar com um segundo barrel pequeno? Eliminamos A-highs!
E isso é um grande sucesso, mesmo quando temos top pair. Também tiramos todos os K-highs – um sucesso ainda maior para um par de valetes!
Pessoalmente, eu preferiria trocar o valete pelo rei para o segundo barril. O solver provavelmente não nota a diferença, mas para um jogador no big blind fica muito claro o quanto esse turn nos favorece. Posso, assim, apostar mais alto.
Conclusão: retornando ao meu board favorito, . O que eu gostaria de ver você fazer com T8o? No mundo dos solvers, uma c-bet e um check são equivalentes.
Mas lembre-se das nossas conclusões sobre o field. As pessoas overfoldam. E, se não foldam, raramente dão raises. Não chegam nem a 13% de raises! Elas dão call com KTo, como o solver sugere? Provavelmente não. E isso deve ser suficiente para decidir. Temos uma boa realização de equidade. Se o oponente dá call com todos os ao invés de misturar calls e raises, ganhamos uma chance valiosa de acertar o dez. Em resumo, quando uma bet e um check são equivalentes no mundo dos solvers, no mundo real a bet sempre será melhor.
Conclusões
A estratégia de pequenas investidas nos dá muito EV. A neutralidade entre bet e check do solver é uma dica: no mundo real, você deve apostar. E evite grandes potes. Três barris, overbets, all-in no river – nada disso foi ensinado aqui. Com ranges mais estreitos, as pessoas jogam mãos fortes de forma mais ou menos aceitável – erram, mas de outra maneira.
Nossa tarefa é eliminar a equidade das mãos fracas do oponente sem riscos excessivos.
Obrigado pela atenção!