Daniel Cates:
— Olá a todos! Hoje temos como convidado Espen… Ullen? É assim que se pronuncia?
Espen Jorstad:
— Sim, está correto. Espen Ullen Jorstad.
Daniel:
— Então, um dos melhores jogadores de MTT do mundo, meu oponente regular, $15 milhões em premiações, incluindo a vitória no Main Event da WSOP 2022. O mais engraçado é que eu nem sabia que você era campeão mundial quando te convidei para o podcast, juro! Que situação!
Espen:
— Hahaha, Jungle, relaxa. Foi engraçado mesmo.
Daniel:
— Eu realmente não acompanho muito as notícias da WSOP. Quem ganhou os Main Events nos últimos anos, por exemplo, eu nem sei.
Espen:
— Até eu ganhar, também não prestava muita atenção. Se você me pedisse para citar os últimos 10 campeões mundiais antes de mim, eu provavelmente erraria. E olha que eu sou jogador de MTT! Então, não vou te julgar sendo um jogador de cash games.
Daniel:
— E neste ano, quem ganhou? Weinman?
Espen:
— Não, foi no ano passado. Tamayo ganhou este ano.
Daniel:
— Não faço ideia de quem seja.
Espen:
— Mas você deve ter ouvido falar de toda aquela polêmica envolvendo o laptop, as simulações e tudo mais.
Daniel:
— Ah, isso eu lembro. O que você acha dessa situação, aliás?
Espen:
— Essas coisas deveriam, obviamente, ser proibidas pelas regras. Não faz sentido sair entre as mãos para verificar quais ranges você deveria usar após as mudanças no stack. É uma grande vantagem.
Daniel:
— Não acho que seja uma vantagem tão grande assim, mas tudo bem. Cara, ainda não consigo acreditar que você ganhou o Main Event! Ha-ha! O que você sentiu, me conta.
Espen:
— Não sei como isso vai soar, mas ganhar o torneio Tag Team, algumas semanas antes do Main Event, foi até mais emocionante para mim.
Daniel:
— Por que foi mais emocionante?
Espen:
— Foi tranquilo e divertido. Ganhar um bracelete junto com um amigo é incrível, sem nenhum estresse. Já o Main Event… Foi uma experiência exaustiva. Tudo o que você pensa é em não cometer erros, não fazer algo bizarro diante das câmeras. Tive que me esforçar muito para que toda a pressão do dinheiro e a grandiosidade do evento não afetassem meu jogo. Depois, algumas pessoas disseram que eu nem parecia feliz quando venci. Na verdade, eu estava muito contente, só que demonstrar alegria pulando de felicidade não é do meu estilo.
Daniel:
— Também não é do meu. Eu provavelmente teria feito alguma piada tipo: "Claro que ganhei, quem mais seria?". Mas você descreve o Main Event como algo muito pesado. Jogar 10 horas por dia não deveria ser tão difícil, não? No Triton Poker, por exemplo, sempre jogamos assim, e está tudo bem.
Espen:
— Naquela época, eu não jogava torneios da Triton. Não tinha bankroll suficiente. Além disso, a dinâmica do Main Event é muito diferente de um Triton de $100k. No Main Event, você pode se dar ao luxo de evitar muitos spots de valor esperado marginalmente positivo porque a mesa está cheia de jogadores que inevitavelmente cometerão erros e praticamente entregarão fichas. Na minha opinião, a principal estratégia no Main Event é jogar pacientemente e evitar aumentar a variância desnecessariamente.
Daniel:
— Concordo. Mas isso não me impede de ser eliminado no primeiro dia toda vez. Parece que eu jogo bem, mas sempre acontece a mesma coisa.
Espen:
— Você, em particular, precisa de ajustes extras no seu jogo porque é uma estrela. Todo jogador aleatório do Texas quer voltar para casa e contar aos amigos como pegou o blefe do Jungleman com Ace-high. A propósito, o Main Event de 2022 foi o primeiro que joguei na vida, mesmo estando no poker desde 2004. E também quase fui eliminado no primeiro dia. Ensaquei apenas 17.000 fichas, menos de um terço do stack inicial.
Daniel:
— Depois disso, as coisas obviamente melhoraram!
Espen:
— Sim, tive sorte no segundo dia e consegui construir um stack grande que mantive até o final. Na mesa pré-final, tive um cooler favorável, com AA contra AK, que me colocou no topo do chip count. E na mesa final, tudo se encaixou perfeitamente: metade dos oponentes claramente não estava jogando para vencer. Você podia perceber que estavam se esforçando ao máximo para subir mais um nível de premiação, provavelmente para pagar hipotecas ou algo assim. Quando revi a mesa final, notei alguns folds bem questionáveis. Isso me deu uma vantagem porque eu era jovem, solteiro, sem hipotecas ou grandes responsabilidades. Embora seguisse o ICM, não me sentia preso ou excessivamente cauteloso.
Daniel:
— Como você mantém a motivação para jogar depois de ganhar o Main Event?
Espen:
— Ótima pergunta. Minha motivação mudou várias vezes ao longo da carreira. Comecei a jogar aos 16 anos e, no início, não fazia ideia do valor do dinheiro. Para mim, poker era apenas mais um videogame. Naquela época, eu era muito fã de jogos como Warcraft 3, Dota, World of Warcraft e Counter-Strike. No poker, minha abordagem era semelhante: queria competir e melhorar. Subir de stakes era como subir de nível em um RPG. Joguei muitos heads-ups naquela época, e cada oponente era como um chefe que eu precisava derrotar. Dinheiro? Parecia só fichas de um jogo.
Depois, entrei na universidade, onde estudei por seis anos e me formei. Durante esse tempo, jogava poker ocasionalmente. Foi só quando comecei a trabalhar que percebi o quanto as pessoas gastam tempo e energia para ganhar a vida!
Antes da Black Friday, ganhar dinheiro no poker parecia fácil, não? Era como se o dinheiro estivesse caindo do céu. Eu via os clientes das poker rooms como caixas eletrônicos. Fazia login, encontrava um fish, ganhava dele e fazia o cashout. Como muitos que jogaram naquela época, me arrependo de não ter jogado mais.
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Daniel:
— O mais engraçado é que mesmo naquela época as pessoas reclamavam que os fields estavam ficando mais difíceis, lembra? Tudo é relativo.
Espen:
— Verdade. Em qualquer esporte é assim; o nível vai ficando cada vez mais alto. Em 2017, quando voltei ao poker, comecei a levar o dinheiro muito mais a sério. Passei a encarar o poker como um trabalho e decidi que, se me esforçasse, aprendesse e me dedicasse, poderia garantir uma aposentadoria confortável.
Daniel:
— E então você grindou por anos e ganhou o Main Event. O que mudou depois disso?
Espen:
— Tudo. Minhas metas financeiras foram atingidas, mas o que fazer depois? Deitar em uma praia na Tailândia e ficar lá pelo resto da vida não me atraía. Além disso, sinto que ainda posso conquistar algo no poker. Então, tive que encontrar uma nova motivação, o que me levou aos torneios high rollers, incluindo o Triton Poker. Queria provar para mim mesmo e para os outros que vencer o Main Event não era meu limite como jogador. Não sei se "alimentar o ego" é a motivação mais "certa", mas foi o que me impulsionou.
Daniel:
— Já considerou parar de jogar?
Espen:
— Às vezes penso em focar em algo diferente, mas não é fácil. O poker é uma parte enorme da minha vida e da minha identidade há muitos anos. Por enquanto, meu objetivo é evitar que meus dias sejam apenas poker. Quando sua vida é só poker, os fracassos doem demais. Então, procuro crescer em outras áreas também: leio muito, pratico esportes, medito e socializo. Quero me desenvolver como pessoa, não só como jogador.
Daniel:
— Pelo que lembro, você já teve grandes conquistas nesse sentido. Não tinha problemas com peso na juventude?
Espen:
— Sim. Aos 18 anos, eu pesava mais de 100 kg e era completamente sedentário. Passava os dias jogando World of Warcraft no computador. Nem me relacionava muito com outras pessoas. Era uma pessoa completamente diferente.
Daniel:
— O que mudou?
Espen:
— Fui para o exército, onde não tive escolha a não ser aprender disciplina. Quando seu dia começa às 5 da manhã com flexões, você inevitavelmente muda. Quando voltei para casa, estava 18 kg mais leve. Depois disso, comecei a frequentar a academia. O lockdown durante a pandemia da COVID-19 também me ajudou muito a entrar em forma. Decidi que aquele era o momento perfeito para trabalhar tanto em mim mesmo quanto no meu jogo. Cortei completamente a comida ruim e passei a treinar 12 vezes por semana.
Daniel:
— Então é assim que você se tornou esse "Apolo". O segredo é simples, pessoal: só treinem 12 vezes por semana!
Espen:
— Hahaha, claro que hoje não faço nada tão intenso assim. Mas caminho bastante. Moro em Bucareste e há um parque com um lago perto da minha casa. Faço caminhadas em volta do lago, cerca de 11.000 passos por dia.
Daniel:
— O que te levou a morar em Bucareste?
Espen:
— Minha nova namorada mora aqui. Vim visitá-la e já estou aqui há alguns meses. Gosto muito da cidade. Estou em um bairro rico, tudo é bonito: os carros, as pessoas, a natureza. Estou adorando!
Daniel Cates:
— Então, eles te pagaram os $10 milhões? Quanto dinheiro você tem agora? Está nadando em uma piscina de moedas de ouro?
Espen Jorstad:
— Já se passaram dois anos, cara. Muita coisa aconteceu desde então.
Daniel:
— Inclusive, vi notícias de que demoraram seis meses para te pagarem o prêmio. Como isso aconteceu?
Espen:
— Sim, a Receita Federal dos EUA não aceitava os documentos que comprovavam minha residência no Reino Unido. Eu poderia ter retirado o prêmio na hora, mas eles teriam retido 30% em impostos — e recuperar esse dinheiro depois seria muito complicado. Então, decidi esperar. Contratei três advogados, em três países diferentes, para resolver a situação. Mas, claro, isso me custou tempo e dinheiro: $10 milhões em um banco com 4% de juros anuais são $200.000 que perdi nesses seis meses.
Daniel:
— Pelo menos te pagaram tudo no final! Imagina o escândalo que seria. E hoje, onde você prefere jogar? Além da WSOP, claro.
Espen:
— A Ásia é incrível. Joguei em Taipei e em Jeju. Há um boom do poker por lá agora, os fields são incríveis. Além disso, há um ótimo custo-benefício: você fica em hotéis cinco estrelas muito mais baratos do que na Europa ou nos EUA. Os torneios são excelentes e não tão caros (exceto os da Triton ou do WPT). Eventos como os do AAPT são perfeitos para jogadores de stakes médios. Se você tiver a chance de viajar por alguns meses, não pense duas vezes. As expectativas de retorno são altíssimas.
Daniel:
— Taipei é incrível, concordo. Por curiosidade, joguei lá um cash game $3/$6 recentemente só para ver como era. Depois de três horas, saí com $15.000 de lucro! Claro, poderia ter perdido o mesmo tanto, era um jogo com muita variância, mas um cara fez um blefe muito questionável e caro contra mim.
Espen:
— Queria poder contar para todo mundo que derrotou o Jungleman, né? A propósito, acho que já jogamos cash juntos uma vez na Ásia, lembra? Você estava vestido como um rei do mar ou algo assim…
Daniel:
— Isso foi em Taipei! Eu estava fantasiado de sábio, com uma barba e tudo. Aliás, você parece ser bem sábio também, sem ironia.
Espen:
— Não diria isso. Tomei muitas decisões ruins nos últimos anos.
Daniel:
— Sério? Que tipo de decisões?
Espen:
— Ah, tem várias. Antes de ganhar o Main Event, eu pensava que, se ganhasse alguns milhões, investiria tudo de forma segura e confiável — tipo no S&P 500 — e relaxaria. Planejava dividir o dinheiro em várias partes, comprar um pouco de Bitcoin, outras coisas, e buscar retornos estáveis de 10% ao ano. Mas, quando ganhei o Main Event, tudo saiu dos trilhos. Surgiram mil ideias de investimento "imperdíveis" e um monte de gente me abordando com propostas. No fim, espalhei meu dinheiro em vários projetos que pareciam promissores, com medo de perder grandes oportunidades. Hoje, penso que foi um erro.
Daniel:
— Sei bem como é. Sempre aparece aquele cara dizendo: "É sua última chance, só tem uma vaga, precisa investir agora!", mas, um mês depois, volta com a mesma oferta.
Espen:
— Exato. Acabei exagerando nos investimentos. Coloquei dinheiro em coisas que eu pouco entendia. Alguns projetos ainda podem dar certo, então não fui enganado em todos, mas me arrependo de não ter colocado tudo no S&P 500. Isso teria poupado muita dor de cabeça.
Daniel:
— Não concordo muito. Gosto mais da abordagem do Taleb. Já ouviu falar dele?
Espen:
— Claro, "Iludidos pelo acaso" é meu livro favorito sobre finanças. Qualquer pessoa no poker ou gambling deveria lê-lo.
Daniel:
— Nunca li esse, mas gostei de "Antifrágil".
Espen:
— Também é excelente. Taleb é um cara brilhante. Ele tem muitos haters, mas admiro a forma como pensa.
Daniel:
— Concordo. A ideia de investir uma parte do bankroll em algo super seguro (como imóveis, onde é difícil perder tudo) e outra parte em investimentos de alto risco, mas com grandes retornos, faz muito sentido. No final das contas, você trocou dinheiro por experiência!
Daniel:
— Aproveitando, quer divulgar seu canal no YouTube? Você gosta de criar conteúdo?
Espen:
— Às vezes. Quanto aos vlogs, o último que postei foi nas Bahamas, há quase um ano.
Minha única rede social ativa é o Instagram. Como ninguém me ofereceu parcerias comerciais no último ano, estou meio desmotivado. Se for para fazer vlogs, quero que tenham um propósito, não apenas por diversão. É muito trabalho, leva tempo e ainda custa caro.
Daniel:
— Mas ajuda a construir sua imagem! Quais são seus planos agora?
Espen:
— Vou gravar alguns vídeos para o GTO Wizard e depois vou para o Triton Poker. Vamos nos ver lá?
Daniel:
— Não, decidi fazer uma peregrinação budista na Índia. Vou visitar todos os lugares sagrados. É mais importante para mim agora do que jogar poker. Estou buscando enriquecimento espiritual!
Espen:
— O que exatamente você vai fazer nessa peregrinação?
Daniel:
— Ainda não sei ao certo! Vou confiar nas pessoas que me convidaram.
Espen:
— Uau, boa sorte! Mal posso esperar para ouvir as histórias dessa jornada. Talvez um dia eu faça algo assim também. Por enquanto, você será nosso explorador.
Daniel:
— Contarei tudo! Obrigado por participar.
Espen:
— Eu que agradeço!