No cenário atual dos torneios high stakes, a maioria dos melhores jogadores do mundo está na casa dos 30 anos. No entanto, apenas oito anos atrás, o panorama era bem diferente. Muitos dos melhores jogadores estavam na faixa dos 20, com nomes como Fedor Holz, Adrian Mateos e Mikita Bodyakovskiy liderando. Essa mudança na demografia de idade dos profissionais de poker despertou discussões sobre por que há menos jogadores jovens atualmente e quais os desafios únicos que eles enfrentam ao competir com veteranos experientes.
Há quanto tempo vocês jogam profissionalmente?
Michael Jozoff: Acho que desde 2022 estou jogando — tipo, não tenho feito mais nada além disso. Em algum momento da faculdade, percebi que tinha um certo talento para o jogo. Sempre fui bom com jogos no geral — cresci jogando xadrez. Também joguei alguns esports de forma competitiva — como Call of Duty e depois Fortnite. Sempre tive esse histórico com jogos. O poker é meritocrático nesse sentido — você é, mais ou menos, responsável pelos seus resultados. Claro, a variância é enorme — especialmente no poker ao vivo — mas especificamente no online: se você joga um volume grande — digamos 10.000 torneios — e está perdendo? Provavelmente, é culpa sua.
Leon Sturm: Cinco anos. Para mim, foi meio óbvio jogar poker profissionalmente porque eu jogava enquanto estava na escola e percebi que minha motivação para qualquer outra coisa não era muito alta se não fosse algo que eu fosse apaixonado.
Casimir Seire: Acho que posso dizer que comecei aos 16 ou 17, jogando com amigos em home games, e foi aí que fui apresentado ao poker.
Clemen Deng: Comecei a jogar profissionalmente em 2021 — então, três anos. Eu ia tentar ficar um ano na Microsoft — por causa das ações, e tudo mais — e só para poder dizer que fiquei lá um ano. Mas chegou um ponto em que senti que estava apenas perdendo tempo. Queria dedicar mais tempo ao poker, então, sim: dei o salto.
Connor Rash: Comecei a jogar semi-profissionalmente na faculdade, mas diria que profissionalmente foi depois de me formar em 2022. Durante a faculdade, fiz alguns estágios em finanças, e percebi que gostava muito mais de poker. Curto muito a liberdade e o estilo de vida que isso me proporciona.
Houve algum streamer da Twitch, em particular, que te fisgou no começo — ou foi um grupo de pessoas?
Leon Sturm: Acho que segui mais a galera do online no início — eu era mais voltado para o poker online do que qualquer outra coisa. C Darwin é um nome que se destacou para mim logo no início; em 2017 ou 2018 — pelo menos do meu ponto de vista — ele era simplesmente “o cara”.
Casimir Seire: Sim — lembro das streams do Spraggy. Ele estava fazendo um desafio de bankroll naquela época — jogando às vezes o Bounty de $30 ou torneios de $4 — e era muito legal acompanhar a jornada e ver como ele passou dos limites baixos para os buy-ins maiores.
Clemen Deng: Alguém em quem eu definitivamente me espelho é o Jason Koon — parece que ele faz tudo certo. Está sempre no topo do jogo e se saindo bem, então sim — ele está no topo da minha lista.
O que tem sido mais difícil do que você imaginava sobre jogar profissionalmente?
Michael Jozoff: Provavelmente os swings, só porque somos humanos, temos emoções, e perder grandes quantias de dinheiro em curtos períodos é difícil. Existe um processo de dessensibilização, mas mesmo assim, os swings podem ser duros, mesmo depois de passar por eles.
Casimir Seire: As oscilações emocionais são definitivamente difíceis — mais do que qualquer coisa — acho que essa é a parte mais difícil que as pessoas não entendem se não jogam poker. Provavelmente é a única coisa negativa do jogo, tipo, às vezes você faz tudo certo e mesmo assim não consegue o resultado que acha que merece. E às vezes acha que está fazendo tudo certo, mas na verdade não está. É uma batalha mental constante.
Connor Rash: Acho que uma das coisas mais difíceis é a questão dos horários — não é como um trabalho normal em que você tem dias fixos de trabalho e de folga. Você tem que equilibrar isso por conta própria — e uma das coisas mais difíceis para mim é decidir se vou jogar ou não quando há um conflito.
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Como você lida com a questão de equilíbrio — melhorar e progredir em outras áreas da sua vida enquanto persegue seus objetivos no poker?
Michael Jozoff: Tenho tido dificuldade em equilibrar outras áreas da minha vida com certeza, porque o poker é um jogo muito competitivo. Parece que o tempo em que não estou trabalhando ou estudando — alguém mais está. Então isso faz você querer estar 100% no poker, estudando, priorizando isso. Mas é preciso lembrar que você tem família, amigos, necessidades que não são relacionadas ao poker — a vida não é só ganhar dinheiro.
Casimir Seire: Tento ser bem liberal comigo mesmo — me permitir curtir a juventude também, porque esse é um tempo que você nunca mais vai ter. Então, digamos que eu grindasse por 10 anos — eu teria o quê, 33? Ainda seria jovem, mas existe o jovem de 33 e o jovem de 23. E eu realmente quero fazer as coisas que um cara normal da minha idade faz, mesmo não estando estudando.
Clemen Deng: Não sinto vontade de jogar poker o tempo todo. Se já estou jogando há muito tempo, costumo ficar um pouco cansado. Gosto de variar e experimentar novas atividades.
Connor Rash: Eu basicamente estou ou 100% no modo poker ou 100% no modo relaxar e curtir com amigos e família.
Por que vocês acham que temos tão poucos jogadores jovens de elite?
Michael Jozoff: Existem muitas formas de ganhar dinheiro com a internet — muitas formas não tradicionais. Então acho que o poker provavelmente não é uma das primeiras opções que as pessoas consideram hoje em dia.
Leon Sturm: Fiquei muito confuso no começo com o fato de não haver muito mais gente que seguisse o mesmo caminho que eu, porque achei que entrar no poker era muito fácil. A internet estava crescendo exponencialmente, né? É muito fácil começar no poker. Em algum momento, muita gente começa. Acho que é uma questão de disciplina — muita gente desiste porque não tem controle de bankroll e são imaturos na forma como lidam com dinheiro.
Casimir Seire: O poker é muito estigmatizado socialmente — não é considerado uma profissão “legal” ou respeitada. Até hoje, ainda tem gente que me diz: “Ah, você não devia fazer esse negócio de poker” — mas bem menos do que antes.
Clemen Deng: Na minha geração, não houve um grande boom de popularidade do poker. Acho que as pessoas da minha geração acabam descobrindo o jogo por acaso. Eu meio que tropecei no poker e dei muita sorte, porque acabou sendo algo que gosto muito. Mas poderia facilmente nunca ter conhecido o jogo.
Qual é a área mais difícil de alcançar os veteranos, que estão jogando high stakes há mais de 10 anos?
Michael Jozoff: Com certeza a parte mais difícil é ler o field e coisas assim. Os jovens com quem estudo são todos bem afiados — mandamos bem em ICM e afins. Então, nas áreas ligadas ao solver, não estamos muito atrás. A maior diferença é que esses caras jogam entre si há 10 anos, e você já sabe que o jogador X vai dar muito call no river, por exemplo.
Leon Sturm: Para mim, a resposta mais clara é ter boas rotinas e manter um estilo de vida saudável, ou estar motivado nesse sentido. É preciso estar muito ciente de que tudo fora das mesas afeta como você joga.
Clemen Deng: Eu diria que é a experiência — esses caras estão estudando e jogando há 10 ou 20 anos. Para alcançar isso, é preciso trabalho. Acho que vou conseguir chegar lá eventualmente, ou pelo menos me aproximar. Mas a diferença está no tempo e na experiência — é assim que vejo.
Connor Rash: Pra mim, é ICM. Em outras áreas, dá para alcançar rápido porque é questão de reconhecer padrões. Você vê uma situação e, se for bom nisso, aplica o que já aprendeu. Mas no ICM, surgem situações completamente novas com frequência, e isso depende de quem já viu 5.000 mesas finais na vida. Vai ser o cara que joga há 10 anos.
Existe alguma vantagem em ser jovem? Algum tipo de "lente única" que ajude vocês a competir com jogadores que estão há 15 anos na estrada?
Michael Jozoff: Acho que a maior vantagem de ser mais jovem e não ter tanta experiência é justamente não ter jogado na era pré-solver. Provavelmente não desenvolvemos maus hábitos ao longo desse tempo — como muitos caras que eram lendas há 10 ou 15 anos e agora estão tentando adaptar o estilo. Tem muita coisa que eles precisam desconstruir que um jogador jovem talvez não precise.
Leon Sturm: Acho que posso ter uma boa intuição sobre tendências populacionais — especialmente as modernas — porque comecei quando o uso de solvers estava em alta. E minha mente ficou muito atenta aos erros comuns daquela época. É diferente de como as pessoas erravam 10 anos atrás — porque o aprendizado era outro.
Casimir Seire: Eu diria que tenho jogado muito mais do que eles ultimamente, porque eles também jogam ao vivo, têm família e outras coisas. Então acho que manter-se atualizado com o meta do poker — que muda o tempo todo — é uma vantagem. A cada poucos meses tem novidade.
Vocês têm metas de curto ou longo prazo no poker?
Michael Jozoff: Minha maior meta de longo prazo é ser o melhor jogador do mundo. Sempre foi isso que me motivou, porque sou bastante competitivo. Acho que pra jogar high stakes é preciso ser. Metas de curto prazo? Não tenho muitas. Acho que tento melhorar um pouco meu jogo a cada semana, mês etc. E acredito que essas melhorias acumuladas vão me levar ao topo.
Casimir Seire: Eu diria que neste momento — embora nem pareça — estou quase lá. Mas minha meta é tirar o máximo de mim mesmo e alcançar o próximo nível. Sempre existe um próximo nível. E diria que quero continuar com minha ética de trabalho e realmente continuar colocando as horas de estudo. Se você se acomoda, nunca vai atingir o seu potencial. Então é isso: colocar as horas e tentar de verdade.
Clemen Deng: Não sou uma pessoa muito orientada a metas. Eu diria que meu objetivo geral agora é apenas me tornar o melhor jogador que eu puder. E eventualmente poder competir no Triton, jogar com os melhores, e sim — participar de todas as etapas da Triton.
