Aqueles que acompanham nossa série de perto provavelmente notaram algumas fraquezas na estratégia básica da nossa protagonista, Ariel. No início, não prestamos atenção a isso. Primeiro porque um iniciante tem que começar de algum lugar e não podemos exigir perfeição imediata; e em segundo lugar, porque em limites baixos, a maioria dos oponentes só vê suas próprias cartas e não pensa em explorar as fraquezas da estratégia de outra pessoa. No entanto, qualquer jogador de poker que queira melhorar deve, com o tempo, erradicar as falhas mais graves do seu jogo, tornando a sua estratégia mais complexa e menos explorável. Hoje, vamos trabalhar em um problema bastante sério na estratégia básica da Ariel ao jogar o turn: a falta de blefes criativos.
Em sua estratégia atual, ela só pode blefar no turn quando tiver draws.
No entanto, em bordos secos, quando há nenhum ou poucos draws, o que ela deve fazer? Um dos princípios básicos da teoria do poker é que, se houver combinações de valor em nosso range, também deve haver blefes. Se nunca blefarmos em certas situações, um oponente que perceba isso pode reconstruir sua estratégia, nunca pagar com bluffcatchers e imprimir EV dessa maneira.
Os autoproclamados mestres em jogar explorando fraquezas podem dizer que ninguém precisa de equilíbrio nesses limites, pois os oponentes jogam muito mal e são completamente desbalanceados. Bom, eu tenho algo a dizer sobre isso. Primeiro, os jogadores de poker não são divididos em balanceados e desbalanceados, cada um deles tem seu próprio grau de equilíbrio. Ninguém executa uma estratégia GTO matematicamente perfeita, com uma relação de valor/blefe que cubra todas as linhas e todos os tipos de bordos. Todo jogador decente é equilibrado até certo ponto, e a falta de equilíbrio torna o jogo previsível e fraco.
No caminho para evoluirmos no poker, não queremos nos tornar como os mais fracos. Nossa tarefa é superar a média e buscar o melhor dos melhores, constantemente melhorando e deixando nossa estratégia mais complexa.
Para decidir como blefar em turns secos, vamos recorrer a um solver. Depois de filtrar todas as mãos em que Ariel não apostou (por blefe) em um turn seco, vamos ver alguns exemplos e tentar encontrar uma heurística de blefe adequada.
Nesta mão, Ariel abriu do CO e o BB deu call. No flop, Ariel apostou um quarto do pote, foi paga e deu check no turn.
O solver geralmente concorda com o check dela, embora ele geralmente ainda prefira apostar (os checks representam apenas cerca de 15%). No entanto, vejamos a estratégia recomendada com todo o range de mãos. Ariel tem muitas mãos de valor para apostar, de full house e dois pares a Ases e ( e Reis com kicker mais fracos apostam com menos frequência). Mas como não há draws, não há blefes no range da Ariel. Como o solver sai desta situação?
A decisão do computador é blefar com as piores mão (bottom) do range.
O EV-Regret de uma aposta pequena no turn e do check com todas as mãos mais fracas que A-high é quase o mesmo. Você pode blefar com todas essas mãos que não será um grande erro.
Com base nas informações recebidas, sugiro as seguintes heurísticas para blefes criativos:
Em potes com um único aumento (SRP), em que o Vilão é passivo e quase não há draws no turn, Ariel deve blefar com 50% das suas mãos ruins que são mais fracas que A-high.
Para entender melhor o significado dessa heurística, vamos analisar cada ponto. Primeiro, em um SRP, A-high será a combinação mais comum nos ranges de ambos os jogadores, e a frequência de A-high aumenta em linhas passivas.
Quando fazemos uma pequena continuation bet, o solver diz que 75% das mãos com A-high vão pagar.
O vilão foi o agressor e não fez uma c-bet? Essa linha é escolhida por 43% das mãos com A-high.
Finalmente, quando fomos os agressores e não fizemos uma c-bet, e o Vilão não apostou no turn, ele faz isso com 88% de suas mãos que tenham A-high.
É bem provável que todos esses A-highs desistam para a nossa aposta no turn. Portanto, os blefes ideais para nós seriam mãos sem valor de showdown e que não bloqueiem o range de fold do nosso oponente, ou seja, sem um Ás.
Se todos os A-highs forem adicionados às mãos ruins de Ariel para testar, as apostar, o EV Regret com esse range vai de 0,6% para 3,6%! Ainda assim, A-high tem muita equidade, e queremos realizar essa equidade pedindo mesa.
Vamos ver outro cenário. Ariel abre do CO e é paga pelo BB. No flop , os dois pedem mesa. O turn traz um Ás de espadas e o Vilão pede mesa novamente.
Neste turn, temos uma boa quantidade de mãos fortes em nosso range, principalmente com kickers ruins. Quanto aos blefes, bem, temos gutshots, mas são poucos para equilibrar com o nosso range de valor. Assim, nossa outra porção de blefes devem ser das mãos sem par com baixo valor de showdown, por exemplo, Q-high ou pior. Com esses blefes vamos colocar pressão no range de K-high do Vilão.
No entanto, blefar com todas essas mãos também não vale a pena — como os ranges são muito grandes em SRP, isso criará um forte desequilíbrio de blefes. Com parte das mãos ruins, não devemos apostar. Em geral, neste caso, nossa heurística com 50% de blefes é bem-sucedida.
E quanto aos potes de 3-bet? Eles têm a mesma regra?
Na mão seguinte, Ariel aumentou para $0,22, do BTN, com e pagou uma 3-bet de $1 do SB.
Os dois pediram mesa no flop e no turn.
Quase não há trincas e fulls no range da Ariel no turn, já que você precisa apostar no flop com essas mãos, mas existem alguns top pairs. É preciso alguns blefes para balancear. Há poucos draws no bordo, então quase todas as mãos ruins K-high e piores vão entrar como blefes.
O principal problema em encontrar blefes em potes de 3-bet é que os ranges são bem curtos e, geralmente, não há mãos ruins suficientes. Portanto, uma nova categoria de mãos de blefe está surgindo em potes de 3-bet: pares pequenos.
Pares de Dois, Três e Quatro blefam 50% das vezes, e o EV Regret em blefar 100% das vezes é de apenas 0,3%. Portanto, em potes com 3-bet, devemos adicionar blefes aleatórios (50/50) com pares pequenos à nossa heurística padrão.
Pares pequenos são mais adequados para blefes do que, por exemplo, ATs, já que eles não interagem com o range de fold do oponente, que tem muitos e pares médios.
Para muitos, blefes sem equidade adicional na forma de draws parecem não naturais, pouco intuitivos e difíceis de aplicar. Claro, é bom blefar com draws, que podem nos fazer ganhar mesmo que nosso oponente pague. No entanto, blefes criativos têm suas vantagens.
O mais importante é que tudo é muito simples com eles. Primeiro, se nos responderem com um raise, podemos desistir com segurança sem sofrer perda de equidade, como acontece com um draw. Em segundo lugar, os blefes criativos geralmente são perfeitos para continuar apostando na maioria dos rivers, enquanto que com draws somos muitas vezes forçados a desistir.
O solver usa ativamente blefes criativos em qualquer textura de bordo, mas será muito difícil para Ariel, então limitaremos seu escopo a turns secos.
Concluindo, quero acrescentar que nossa heurística extremamente simplificada, com 50% de blefes, muitas vezes não será a ideal. Em uma estratégia mais avançada, a porcentagem de blefes irá variar dependendo do número de combinações de valor e blefe. Se houver muitas mãos de valor, o solver blefa quase todas as mãos ruins:
E quando há pouco valor, os blefes se tornam cada vez mais raros.
O jogador perfeito também levará em conta a non-draw equity (como overcards), o efeito dos blockers, backdoor draws no flop e assim por diante. No entanto, tentar aplicar uma estratégia tão complexa requer a capacidade de representar qualitativamente os ranges de jogadores em todas as texturas, o que é quase impossível para alguém que ainda não jogou sete mil mãos de poker. Saber jogar ranges só vem com a prática constante.