O blog pessoal de Phil Galfond voltou a ser atualizado! A lenda do Omaha comanda, desde o início do ano, mais uma turma de estudos, e em seus ensaios (escritos sob a inspiração das conversas com os alunos), fala sobre motivação, autoconhecimento e outras questões fundamentais para os jogadores. Traduzimos três textos recentes do mestre.
Emoções e lógica: o que realmente nos move?

Original: philgalfond.com/articles/logic-vs-emotion-part-1
Jogo poker há mais de 20 anos e, no começo, estudava pelos livros do David Sklansky. Ele via o poker unicamente pela lente da lógica, e eu sonhava em me transformar em um robô na mesa. Um exterminador, para quem qualquer sinal de medo era tão fraco quanto torcer para bater uma carta específica no river.
Felizmente, não demorou para que eu conhecesse um excelente coach de mental game, Tommy Angelo. Ele me ajudou a reconhecer as emoções e interpretá-las. Foi aí que descobri que, por mais que tentasse, nunca me tornei um robô. E que aquelas emoções que eu tentava reprimir ainda assim afetavam meu jogo, mesmo sem que eu percebesse.
Emoções também são informação
Veja como isso funciona na prática. Digamos que estejamos jogando um cash game $100/$200.
Abro com do botão ($500), o jogador no big blind defende.
No flop , faço c-bet de $400. Ele paga.
No turn , ambos damos check.
No river , ele aposta $600 num pote de $1.900.
Minha primeira reação: parece uma fraca, então vou extrair valor com um raise de $2.200.
Segunda reação: espera aí, isso pode ser armadilha! E começo a buscar razões para não aumentar: “Ele pode dar bet-3bet, até com blefes. Não quero largar a melhor mão. E no fim das contas, ele provavelmente vai acreditar no meu raise e não vai pagar com uma pior…”
É aí que eu me paro. Percebo que estou com medo, desconfortável. E me pergunto: “Espera. Você quer dar call porque acha que é a melhor opção… ou porque é a mais confortável?”
Volto ao início. Reavalio a situação do zero. E percebo que esse desconforto trouxe uma peça que faltava no quebra-cabeça. Se eu ignorasse essa sensação, ela nunca teria aparecido.
Outro exemplo
Digamos que estou decidindo no river entre enfiar $50.000 em um blefe ou desistir e perder a mão. E a cada segundo que passa, me aproximo mais do fold.
Por quê? Porque estou nervoso. Já vivi essa situação 100 vezes, mas um blefe grande — em qualquer lugar do mundo — sempre dá medo. Vejo a cena na minha cabeça: o oponente paga instantaneamente, tem nuts, desastre!!!!
Mas espera. Estou claramente diante de uma situação borderline, senão nem teria dúvida. E estou deixando de blefar só por medo! Isso significa que, se não tivesse medo, já teria entendido que o blefe é +EV.
Claro que você não é eu
Nossas emoções são diferentes. Eu, por exemplo, tenho medo de perder — e você talvez encontre energia nos blefes infinitos. Mas, independentemente disso, o mesmo algoritmo serve para nós dois:
- Fora das mesas — pense nas situações em que você se sente mais desconfortável. Anote.
- Durante o jogo — tente reconhecer essas situações.
- Ou mais simples: repare em todo spot que te causa emoções negativas.
- Percebeu? Ótimo. Agora se pergunte: é a lógica ou a emoção que te faz pender pro bet, call ou fold?
As emoções não vão desaparecer. Mas, se você começar a reconhecê-las e analisá-las, vai conseguir tomar decisões mais lógicas com mais frequência. Só não confunda emoção com intuição: ou seja, aqueles spots em que algo te diz que deve agir de certo modo. Intuição é outra coisa — ela se baseia na experiência. E se você tem experiência suficiente, vale a pena confiar nela.
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Lógica vs. emoção: fora das mesas

Original: philgalfond.com/articles/logic-vs-emotion-off-the-table
Assim como nas mãos de poker, às vezes temos que escolher entre duas opções próximas. Falar com seu irmão sobre um assunto desconfortável ou deixar pra lá? Terminar com a namorada ou esperar que a relação melhore? Sair para correr ou ir direto pro trabalho, que está acumulado?
E, de novo, como numa mão de poker, se você sente que são decisões equilibradas, o caminho certo geralmente é o que traz mais dor e desconforto no momento. Seu irmão vai ficar bravo. Sua namorada vai se magoar. Fazer exercício é mais difícil do que ficar parado. Mas, se você aprender a se superar nesses spots e fazer o que é mais difícil, os resultados no longo prazo serão incríveis. Você vai se tornar mais corajoso, mais confiante. Vai saber que é capaz de enfrentar qualquer coisa.
As emoções são um sinal
Se dá medo de blefar — não significa que o blefe é ruim. Se você está com raiva de um amigo — não significa que ele está errado. Sua reação depende de muita coisa: personalidade, passado, medos, desejos. Até o sono! Se dormiu mal, é 5x mais provável que você se irrite com alguém. Mas isso significa que a outra pessoa errou 5x mais?
Entre todas as emoções, a raiva é o exemplo mais fácil. As pessoas costumam tratá-la como sinal de que estão certas e o outro errado. E a raiva normalmente vem acompanhada de algo mais: como um mecanismo de defesa contra o medo, vergonha, dor, culpa, frustração, tristeza, impotência. Um exemplo:
Conversas à mesa
Jantar entre amigos. Cada um compartilha algo bom que aconteceu no último mês. Bob diz que foi promovido. Joe fala de um ótimo encontro. Dave relembra uma trilha nas montanhas. Chega a vez de Steve. Ele conta que deu um carro de presente para a mãe e que ela ficou muito feliz.
Depois do jantar, Bob manda mensagem para Joe: “Nossa, Steve passou dos limites. Fica se exibindo porque tem mais grana.” Joe concorda, também se sentiu mal.
Mas Bob não para por aí — e manda a mesma coisa para Dave. Dave responde surpreso: “Ué, eu achei a história dele legal, super fofa. A gente mesmo pediu pra contar algo bom, não?”
Bob então se irrita com Dave. Ele não enxerga que o Steve é um exibido?
As opiniões se dividem
Por que Bob ficou tão incomodado? Porque sentiu culpa e vergonha: ele está com problemas financeiros (mas esconde isso dos amigos). E Joe? Ele tem uma relação difícil com a mãe: sente vergonha de não manter contato nem ajudar.
Dave não carrega esse peso. A história do carro o deixou feliz. Bob e Joe esconderam vergonha e culpa atrás da raiva. Não perceberam que a raiva era só um sinal. Preferiram concluir que Steve era arrogante. Steve era o problema, eles eram os bons — afinal, só alguém ruim conseguiria irritá-los.
Como reconhecer o sinal?
Sempre que algo te deixa triste, irritado, envergonhado, bravo — o primeiro passo é entender que isso fala mais sobre você do que sobre os outros. Claro, não estou dizendo que qualquer um pode falar ou fazer o que quiser e você tem que aceitar calado. Só estou dizendo que não dá pra confiar 100% na sua primeira (forte) reação. Tente entender: o que, exatamente, te afetou tanto?
Na minha opinião, saber avaliar suas forças e fraquezas é um dos maiores segredos do sucesso no poker. Por isso, mergulhe em si mesmo. Estude suas reações, especialmente as mais intensas. Trate as emoções como um enigma a ser resolvido. Quando aprender a decifrá-las, vai descobrir um mar de novas possibilidades — também no poker.
Quem é o mais forte da mesa? E por que não é você?

Original: philgalfond.com/articles/whos-the-mark
Eu estava dando coaching para um regular de stakes médias chamado Mark. E, em uma das sessões, ele me pediu um conselho: estava em dúvida se deveria continuar jogando cash games ou migrar para os torneios.
Mark dizia que, no cash, já não era possível ter uma grande vantagem. Que todas as mesas que ele jogava tinham a mesma configuração: um fish, em volta de quem todos se agrupavam, e o restante regs. Alguns mais fortes, alguns no mesmo nível que ele, e alguns um pouco mais fracos. Ele estava em um downswing, e a sua confiança derretia diante dos meus olhos.
Dá pra entender o Mark: quando tudo começa a dar errado em um ambiente familiar, é natural pensar em tentar algo novo. Parece uma solução simples. Mas, enquanto eu o ouvia, uma ideia não saía da minha cabeça: ele claramente estava deixando passar algo importante.
Agora, uma pequena digressão lírica
Todos nós somos um pouco bitolados em certas áreas, e isso é normal. Cada um tem seu próprio sistema de referências baseado na experiência — e ninguém vai revisar esse sistema toda vez que precisa tomar uma decisão. Eu, por exemplo, nunca gostei de ler. E um dia um coach me deu uma tarefa: ler um livro inteiro em uma semana.
E eu, caramba, odeio isso. Meu negócio é vídeo, conversa, prática. Livro… sei lá. É lento, é chato. Mesmo tentando me concentrar, minha mente sempre acaba vagando. O coach nem fazia ideia de quão difícil era essa tarefa para mim.
Cheguei a pensar em desistir, simplesmente ignorar. Mas respirei fundo e comecei. Quinze minutos. Depois trinta. Depois noventa. E, de repente, percebi que não estava me distraindo, nem sofrendo — na verdade, estava me sentindo muito bem. Estava adorando!
Como explicar isso? Acham que era um livro incrível? Nem era. Era só um livro comum. Eu simplesmente comecei a gostar do processo. Sentar e ler em silêncio. Tranquilo, meditativo, maravilhoso!
E aí entendi o que havia mudado. Antes, quando tentava ler, eu era outra pessoa. Primeiro um estudante, depois um regular. E quando terminava de estudar ou jogar, só queria relaxar e fazer algo divertido. Minha vida não funciona mais assim.
Hoje eu tenho 40 anos. Sou jogador, treinador, embaixador, dono de alguns negócios, marido e pai. E quando "termino" de trabalhar, não mergulho em um estado de paz e despreocupação. A caixa de entrada está cheia, penso nas tarefas inacabadas ou nas próximas obrigações. Tenho que cuidar do meu filho… Muita coisa. Vida adulta.
E escapar disso por uma hora, esquecer tudo, mergulhar num livro — é uma felicidade silenciosa. Um descanso de verdade, que quase não tenho mais. E eu passei 15 anos acreditando que odiava ler. Aliás, nem é isso: eu TINHA CERTEZA de que odiava ler. Mas, como descobri, isso era mentira.
Vamos voltar ao Mark, mas antes mais uma história curta sobre mim
Meus pais me deram o nome de Philip. E é claro que era assim que todos me chamavam: família, amigos, professores. Até que, um dia, uma professora chamada Miss Wood passou a me chamar de Phil — não sei por quê. Depois disso, os colegas começaram a fazer o mesmo. E, em algum momento, percebi que gostava mais desse nome. Desde então, há mais de 30 anos, sou Phil. Ou seja: alguém pode mudar sua visão sobre algo que você considerava fixo e imutável.
Agora sim, voltando ao Mark. Ele reclamava que não valia a pena jogar cash, porque havia regs mais fortes. Então, perguntei:
"E por que você não pode ser o melhor jogador da mesa?" E Mark travou. Ele havia aceitado, há muito tempo, que sempre haveria regs melhores, que tirariam parte do seu EV. Nem passava pela cabeça dele que ele poderia ser um desses jogadores top. Que poderia estar no lugar daqueles que ele temia — e que poderia fazer os outros regs se sentirem como ele.
Ele não foi para os torneios. Continuou no cash. Criou novas metas e acabou mudando completamente a forma como abordava o jogo. Desde então, Mark conquistou muito.
Vamos falar de você
A história do Mark é comum. Eu mesmo fui um Mark, quando os solvers surgiram. Tinha absoluta certeza de que aquilo era o fim da linha para mim no poker. Que dali pra frente, o jogo pertenceria a gente com talentos completamente diferentes dos meus. E que bom que teve gente para me mostrar que eu estava enganado.
E você? Que muros imaginários construiu ao seu redor? Acredita que sempre haverá alguém mais forte na mesa? Já decidiu que nunca vai ultrapassar certo nível? Não se arrisca a tentar algo novo porque "sabe" que não vai conseguir?
De uma coisa eu tenho certeza: alguma dessas crenças é falsa. Algumas das coisas que você acredita sobre si mesmo estão erradas. Mas descobrir isso sozinho é muito difícil. Alguém precisa te mostrar. E você precisa se colocar em situações onde isso possa acontecer.
Os maiores avanços — no poker e na vida — não vêm quando você aperfeiçoa uma habilidade. Eles vêm quando você consegue enxergar de um jeito novo algo em que nunca antes pensou em duvidar.